Marvel mira e acerta com ‘Capitão América: Guerra Civil’
Universo cinemático do estúdio ganha um de seus melhores representantes e ainda oferece uma virada na história dos filmes por vir
Alguns filmes de super-heróis foram feitos para ficar na história do cinema. A trilogia do Batman: O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, ou os dois primeiros Homem-Aranha, de Sam Raimi, são exemplos de produções que merecem ser parte de um cânone de qualidade do filão. Capitão América: Guerra Civil, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, acaba de engrossar a seleta lista.
O novo filme da Marvel traz algumas lições importantes para o futuro do gênero. A primeira é que a continuidade funciona. Quando em 2008, a iniciativa Vingadores foi citada pela primeira vez, emHomem de Ferro, o estúdio provavelmente já sonhava com altas cifras em um futuro que seria construído com paciência e muito investimento. Hoje, o universo cinemático da Marvel soma 9 bilhões de dólares em bilheteria.
A segunda lição é que filmes de ficção científica e fantasia precisam ter algo de verossímil na ligação com a realidade. Ao longo das produções no cinema, os heróis da editora de quadrinhos arrasaram quarteirões (literalmente). Metade de Nova York foi destruída, prédios caíram, uma cidade inteira foi tirada do solo. Muitos inocentes anônimos morreram. A verdade da guerra, ofuscada até mesmo na realidade pela redução das vítimas a números e estatísticas, é uma consequência que será enfrentada no cinema por Capitão América e amigos. A guerra civil, que dividirá as opiniões entre os Vingadores, começa assim.
Após os eventos de Vingadores: Era de Ultron (2015), em que centenas de mortes ocorreram durante uma ação dos super-heróis, as vítimas anônimas começaram a ganhar rostos. Tony Stark (Robert Downey Jr.) é o primeiro a ser cobrado por uma mãe, que perdeu o filho na tragédia. Enquanto isso, parte do grupo, liderada por Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans), tenta impedir o roubo de uma arma biológica, que foi parar na mão do vilão Ossos Cruzados (Frank Grillo). A intervenção também acaba em desastre e na morte de onze inocentes.
O rastro de destruição leva os governos mundiais e pedirem por uma medida de regulamentação, que controle as ações dos Vingadores. Ao assinar o projeto, os heróis perderiam a autonomia e ficariam submetidos às decisões da ONU, que diria quando, onde e como eles poderiam agir. O Capitão América não gosta da ideia, o Homem de Ferro se posiciona a favor, ao acreditar ser essa uma medida provisória adequada, que servirá inicialmente para acalmar os ânimos.
A situação se agrava quando a culpa por um atentado terrorista na África recai sobre o até então desaparecido Bucky Barnes (Sebastian Stan), o Soldado Invernal. Para salvar o amigo, Rogers parte em seu encalço e promove outro estranhamento com as autoridades políticas do mundo. A linha entre os dois lados é traçada e o governo pede ao Homem de Ferro a prisão de Capitão América e seus aliados.
Para reforçar os times, nomes antigos e novos são recrutados. Capitão busca a ajuda dos já conhecidos Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), Gavião (Jeremy Renner) e do amigo Falcão (Anthony Mackie), além da chegada de Homem-Formiga (Paul Rudd). Já Stark é ajudado por Viúva Negra (Scarlett Johansson), Máquina de Combate (Don Cheadle), Visão (Paul Bettany) e dos novatos mais esperados: Pantera Negra (Chadwick Boseman) e Homem-Aranha (Tom Holland).
Os dois novos heróis foram muito bem construídos. Pantera é forte, sério e articulado, enquanto o novo Homem-Aranha é um adolescente pentelho, deslumbrado com os novos colegas de trabalho, e responsável por alguns dos momentos mais engraçados da trama.
Conhecida pelo excesso de humor, a Marvel, aliás, aprendeu a condensar nos momentos certos as piadas. O auge cômico do roteiro é justamente seu pico de ação, quando os dois grupos de heróis se enfrentam em uma pista de aeroporto.
Por fim, a trama chacoalha todos os filmes lançados até então e prepara caminho para a nova fase do estúdio – trabalho que Era de Ultron não conseguiu fazer. A luta entre os grupos faz sentido e eleger um lado é uma tarefa difícil. Após 2h30 no cinema, é possível perceber que Guerra Civil é um marco e uma prova de que a Marvel, enfim, atingiu a maturidade.