Chris Nikic, um jovem norte-americano de 17 anos, foi notícia no mundo todo após completar um ironman, a prova mais difícil do triathlon: 4 km de natação, 180 km de ciclismo e mais de 42 km de corrida, um percurso que levou quase 17 horas. Considerando suas limitações, Chris quebrou um recorde. Essa notícia me lembrou quando o carioca Breno Viola se tornou o primeiro brasileiro com sua condição a alcançar a faixa preta no judô. Breno é casado com Samanta Quadrado, a influencer digital Sassá, com mais de 25 mil seguidores no Instagram.
Os três jovens citados acima têm algo em comum. Eu até poderia dizer que é a trissomia do 21– a Síndrome de Down. Mas o que quero destacar aqui é a superação. Ao realizarem seus sonhos, eles não só superaram limites, mas também expectativas. Em geral, pessoas com deficiência intelectual são subestimadas por apresentarem uma condição genética que impõe diversas limitações físicas e intelectuais. No entanto, isso só mostra que precisam de mais recursos, ajuda e incentivo para atingirem um objetivo. Afinal, que não precisa?
Como mãe do Chico, uma criança com Síndrome de Down, sempre procurei formas de ajudá-lo a desenvolver mais autonomia em todas as áreas da sua vida. O que descobri nesta caminhada é que falta muita informação. Por muito tempo, pais de crianças com deficiência foram levados a crer que seus filhos não seriam capazes de ter uma vida “normal”, uma profissão ou sua própria família.
Felizmente, hoje sabemos que existe uma série de recursos que auxilia no desenvolvimento da pessoa com Síndrome de Down, dando a ela mais autonomia para todas as áreas da sua vida. Não estou dizendo que a mesma regra se aplica a todas as pessoas. Existem graus de deficiência, limitações físicas, condições crônicas, entre outros desafios que tornam cada caso único. Ainda assim, defendo que existe uma ferramenta que funciona em todos os casos: acreditar no potencial das nossas crianças e jovens com deficiência.
Foi pensando nisso que a ONG Nosso Olhar criou os projetos Bike Art e Bike Truck, proporcionando à pessoa com deficiência oportunidades de inclusão e desenvolvimento pessoal, profissional e educacional. Ao longo destes anos, vi o quão fantástico é dar a eles a chance de mostrar que podem ir além. É ainda mais satisfatório ver a felicidade dos pais ao perceberem o crescimento de seus filhos em todos os aspectos. É esse tipo de energia e incentivo que eu quero para o meu Chico.
E não param de surgir referências. Quem poderia dizer que em 2020 teríamos três políticos com Síndrome de Down concorrendo ao cargo de vereador de suas cidades nas eleições do último domingo? Pois aconteceu com Larissa Leal, de Itabuna-BA, João Guilherme, de Lagoa Seca-PB, e Luana Rolim de Moura, de Santo Ângelo-RS, que se tornou a 1ª suplente de seu partido com 633 votos.
Sim, eles podem ir muito além. Mas, como qualquer pessoa, ninguém quebra limites, barreiras e tabus sozinho. Quando penso até onde meu filho poderá chegar, entendo que nem mesmo a ciência é capaz de dizer. É por isso que, como mãe, eu não ouso impor limites, prefiro construir pontes.
*Thaissa Alvarenga é fundadora da ONG Nosso Olhar, comanda o blog Chico e Suas Marias e o Programa Inclua Mundo