*Rogério Araújo
A inflação voltou a assombrar os brasileiros. Elevada e persistente, ela corrói o poder de compra do consumidor e alimenta uma mudança de comportamento. Para driblar o aumento dos preços, as pessoas estão adotando novos hábitos de compra, priorizando o essencial.
O consumo de carne bovina, por exemplo, atingiu o menor nível dos últimos 25 anos. Uma queda de mais de 4% de consumo per capita de carne bovina só nos primeiros quatro meses deste ano, comparado com o ano passado. Os brasileiros estão comprando menos, mas gastando mais. É o aumento do custo de vida que atinge em cheio os mais pobres.
A variação cambial e o aumento do preço das commodities explicam a alta dos alimentos, entre outros fatores. E a queda na renda provocada pela pandemia só agrava a situação de famílias vulneráveis, que não têm o suficiente para se alimentar.
O auxílio-emergencial tem sido o socorro para muitas famílias. Mas com seus valores baixos, que atualmente não passam de R$ 375,00, o benefício ajuda pouco na compra de alimentos e gás necessários para o sustento familiar.
Garantir o acesso de todos a uma alimentação equilibrada passa longe de simplesmente aproveitar a comida desperdiçada pela classe média. É necessário um consistente pacote de medidas econômicas para conter os impactos no preço dos alimentos, formado a partir da influência de diversos fatores externos, como a compra de produtos em dólar.
Por outro lado, a recuperação da economia e a abertura de novos postos de trabalho são o caminho para garantir mais renda ao trabalhador. Principais afetados pela alta dos preços, os mais pobres também sofrem com o desemprego recorde: o país tem hoje mais de 14 milhões de desocupados. E os principais afetados são os que têm menos escolaridade e que atuam na informalidade.
O acesso ao mercado de trabalho é umas das principais formas de combate à pobreza. E a retomada da economia é fundamental nesse processo. Com a pandemia ainda fora de controle, é preciso priorizar a vacinação para garantir o funcionamento pleno das atividades econômicas.
Para diminuir as desigualdades sociais é necessário fazer mais do que garantir emprego. Sem dúvida o trabalho contribui com a redução da pobreza, mas é preciso um compromisso fundamentado em metas e objetivos para promover a redução da desigualdade a longo prazo.
*Rogério Araújo é gestor e consultor financeiro, especialista em investimentos e fundador da Roar Educacional Consultoria