*Por Andreas Göhringer*
Fico feliz em ver que a relação da indústria brasileira com suas congêneres da Alemanha vai além da importação de produtos de última geração. Passa também pela nacionalização e disseminação de conceitos que por lá estão mais consolidados e podem trazer vantagens competitivas ao país.
Isso vale em especial para a área ambiental. Uma das questões que me chamam a atenção é o tratamento de resíduos sólidos e líquidos, assunto de extrema urgência em tempos de carência de água. A tecnologia para recuperação de fluidos ou sólidos passa pelo aspecto mecânico, bioquímico ou térmico, ou seja, reciclagem, compostagem ou incineração. Se pensarmos no transporte de fluidos, por exemplo, é crucial que ele seja realizado sem vazamentos, sem a corrosão dos equipamentos condutores e sem riscos de explosão. Tudo isso requer o domínio de técnicas, é claro, mas também equipamentos próprios e calibrados, com manutenção em dia.
É bom saber que, do lixo, surge a energia para retomar o ciclo produtivo, como é o caso do biogás. Ao absorver o know-how de décadas da Europa no beneficiamento do gás, é preciso que as soluções sejam adaptadas à realidade brasileira, que envolve longas distâncias, variação climática e, muitas vezes, condições inóspitas. Novamente aqui, o material de condução desse insumo deve garantir a vedação absoluta, zerando riscos de vazamento, e também apropriado a feitos climáticos ou ao próprio produto, que causam a corrosão e oxidação, o que danifica válvulas destinadas a preservar a passagem controlada desse material, que pode ser contaminante ou explosivo.
Ainda no campo dos gases, fala-se muito hoje nas tecnologias de emissão negativa do carbono, mas como capturar e armazenar esses gases de forma a controlar o aquecimento global? Aqui também se exige a adequação de maquinário. Tudo isso começa por um inventário, ou seja, um diagnóstico que cabe a cada organização – isso já é uma cobrança da sociedade europeia sobre suas empresas e a tendência é que cresçam as exigências por aqui também – que o digam os investidores atentos aos critérios ESG (que inclui indicadores ambientais, sociais e de governança).
O hidrogênio verde é outra opção energética que tem sido desenvolvido em países como a Alemanha e representam uma possibilidade muito grande para o futuro de diversos setores da economia. No agronegócio, o elemento é usado na produção de fertilizantes para sintetizar a amônia, base para produzir a ureia e o nitrato de amônia – portanto, se produzirmos hidrogênio verde sem emissão de gás carbônico, seria possível contar com um produto nacional de ótima qualidade, sem depender das importações realizadas hoje nessa área. No campo da produção de energia elétrica renovável, temos muito a absorver em termos tecnológicos, mas esse investimento valerá a pena.
É necessário também um apoio governamental, a exemplo da Alemanha, que lançou, recentemente, um Plano Nacional de Hidrogênio Verde, para regular a produção, o transporte e a utilização do hidrogênio verde.
Por fim, gostaria de lembrar de algumas “técnicas” muito difundidas na Alemanha e que não custam nada: o uso de bicicletas e compartilhamento de transporte; a redução no consumo de energia elétrica; a instalação de “telhados verdes”; projetos sustentáveis de construção, entre outros.
E você, o que tem feito pelo planeta?