O presidente do Paraguai, Mario Abdo autorizou, ontem (13), o início da construção da ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho (MS) e Carmelo Peralta (PY). Fundamental para a implantação da Rota Bioceânica, a obra é considerada um marco para o desenvolvimento do Estado e do País. Fotos: Chico Ribeiro
A um custo de 649.483.986.793 guaranis (aproximadamente R$ 575,5 milhões de reais), a ponte será construída pela Itaipu Binacional. As empresas que ganharam a licitação para execução da obra terão 1.080 dias (36 meses) para concluir o empreendimento.
O início das obras simboliza concretamente a realização de um sonho de décadas e a viabilidade da Rota Bioceânica, afirmou o governador Reinaldo Azambuja. O grande desafio, agora, na sua avaliação, é desburocratizar o setor alfandegário.
“A ponte tem um simbolismo muito forte ao garantir esse corredor ao Pacífico, que dará maior competitividade a Mato Grosso do Sul e a toda região Centro-Oeste, integrando definitivamente os quatro países (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile) não só economicamente, mas também na cultura e no turismo”, disse o governador. “O Centro-Oeste exporta 68% de sua produção aos países asiáticos e a rota vai encurtar distâncias e reduzir o custo do frete em até 35%.”
Reinaldo Azambuja defendeu a formalização de um acordo alfandegário comum, com um registro único para as mercadorias que transitarão pelos quatro países, como ocorre na União Europeia, onde o produto lacrado na origem chega diretamente ao destino sem burocracia. “O Brasil deve promover a organização do tratado específico do Mercosul para que tenhamos desembaraço alfandegário e maior agilidade na movimentação das mercadorias”, disse.
Com esse tratamento aduaneiro, segundo Reinaldo Azambuja, os produtos dos quatro países, em especial de Mato Grosso do Sul (carnes processadas, grãos e celulose), ganharão mais competitividade no mercado, além das vantagens que a rota propicia em relação a redução da distância e tempo aos portos de Antofagasta, no Chile, o que representa menos 17 dias de uma viagem de navio. “Os nossos produtores terão uma rentabilidade maior”, comentou.
Investimento em infraestrutura
O evento de lançamento da pedra fundamental da ponte, organizado pelo governo paraguaio em Carmelo Peralta, cidade vizinha a Porto Murtinho, não contou com a presença do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. O avião presidencial não decolou de Campo Grande devido ao mau tempo em Bonito, de onde seguiria de helicóptero para a fronteira. A placa não foi descerrada pelo presidente paraguaio, que convidará Bolsonaro para nova agenda em janeiro de 2022.
Em seu pronunciamento, durante o ato realizado às margens do Rio Paraguai, o governador Reinaldo Azambuja destacou a visão estratégica dos presidentes do Brasil e do Paraguai de viabilizar a Rota Bioceânica e promover o desenvolvimento regional nos dois lados da fronteira. “Bolsonaro e Mário Benitez estão marcando história e o início da obra da ponte simboliza a redenção da região Centro-Oeste, sobretudo Mato Grosso do Sul e Murtinho”, pontuou.
O governador acrescentou que a palavra dos sul-mato-grossenses é de gratidão aos dois presidentes e realçou que o Governo do Estado está fazendo a sua parte ao integrar as regiões produtores por asfalto com a rodovia BR-267, que dá acesso à Porto Murtinho. “Estamos investindo R$ 1 bilhão em infraestrutura, pavimentando mais de 700 quilômetros de eixos de ligação e acesso a 267, garantindo segurança e qualidade nas nossas estradas”, frisou
Reinaldo Azambuja citou ainda os investimentos em segurança pública na região, anunciando que a polícia de Mato Grosso do Sul terá torres interligadas com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), com um sistema de alta precisão, e está adquirindo um helicóptero para o DOF (Departamento de Operações de Fronteira), além de ações integradas com o Paraguai já em execução.
Aliança estratégica
Em sua fala o presidente do Paraguai, Mário Benitez, garantiu a conclusão da ponte sobre o Rio Paraguai em menos de três anos (prazo contratual) e anunciou a pavimentação do último trecho da rodovia do Chaco Paraguaio, de Carmelo Peralta a Lomo Plata (do total de 275 quilômetros, faltam apenas 28 quilômetros). Também confirmou a contratação da segunda etapa da rodovia, correspondente a 350 quilômetros entre Marescal Estigarribia e Pozo Hondo (Argentina).
“Estamos aqui celebrando uma aliança estratégica de irmandade e fraternidade com o Brasil”, disse Benitez, enfatizando que há mais de 40 anos a tão sonhada integração entre os dois países, iniciada com a construção da Ponte da Amizade, no Rio Paraná, não avançou. “Este ato está demonstrando como tem que ser a relação de países irmãos e o Paraguai sustenta a sua posição de ser aliado para a competitividade que a Rota Bioceânica proporcionou a todo o eixo que a interliga. Teremos um impacto muito grande na economia e também na cultura”, finalizou.
A ponte sobre o Rio Paraguai será construída no km 1.000 da Hidrovia do Paraguai, por um consórcio binacional, e custeada pela margem paraguaia da Itaipu Binacional, com investimento de 102,6 milhões de dólares (aproximadamente R$ 575,5 milhões). A travessia terá extensão total de 1.294 metros (incluindo os viadutos de acesso) e largura de 20,10 metros. A parte estaiada centrada no leito terá 625,37 metros, com vão central de 350 metros.
Momento histórico
A autorização para início da construção é um momento histórico na avaliação dos secretários estaduais. A obra é o símbolo da implantação da rota bioceanica, que vai encurtar o caminho de Mato Grosso do Sul e países da América do Sul com oceano pacífico A expectativa é aumentar as exportações com redução de custos e produtos mais competitivo ao mercado asiático.
“Trata-se de um momento histórico, que vai se consolidar depois de muitas reuniões e discussões para se chegar ao início das obras desta ponte”, destacou o secretário estadual de Infraestrutura, Eduardo Riedel.
Riedel destacou que a rota bioceanica será uma integração comercial, de negócios e também de turismo. “Vai favorecer em todos os setores, do nosso lado estamos fazendo nossa parte, que é ligar as nossas rodovias com a rota. Agora é acompanhar de perto a execução destas obras, pois são novas oportunidades que vão ficar na história do Estado e Brasil”.
Para o titular da Semagro, o secretário Jaime Verruck, a nova ponte e a rota bioceanica vão trazer desenvolvimento para todo Estado. “É uma integração por meio de um corredor, que além da parte comercial, nos preocupamos para que a população se aproprie deste desenvolvimento”.
O secretário de Governo, Eduardo Rocha, também lembrou que o turismo terá um papel importante neste cenário. “Vai ser uma rota comercial e turística, não tenho dúvida que os brasileiros vão seguir a rota de carro ou motocicleta, junto com suas famílias.
Além disto vamos levar nossos produtos com menos tempo para o mercado asiático, assim como importar com valor mais barato”. O prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, citou que hoje a cidade será uma das mais importantes do Brasil. “Grandes empresas estão nos procurando para se estabelecer aqui, para isto teremos mais de R$ 80 milhões em investimentos para estruturar e organizar o município”, revelou.
Para o secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck, a obra significa a integração dos oceanos Atlântico e Pacífico através de um corredor logístico de extrema importância, além de significar o desenvolvimento de toda a região. “Um dos pontos que a gente sempre cuidou é garantir o desenvolvimento de toda esta região. Este é o trabalho que está sendo desenvolvido, que Porto Murtinho e a as cidades paraguaias se apropriem também deste desenvolvimento”, completou.
Investimentos
A ponte sobre o Rio Paraguai terá um custo de 649.483.986.793 guaranis (aproximadamente R$ 575,5 milhões de reais) e será construída pela Itaipu Binacional. As empresas que ganharam a licitação para execução da obra terão 1.080 dias (36 meses) para concluir o empreendimento, que é essencial para rota bioceânica.
A estrutura vai dispor de 1294 metros de extensão total, com duas pistas de rolagem de veículos de passeio e caminhões, com 12,5 metros de largura, e duas passagens nas laterais, com 2,5 metros cada uma, para o trânsito de pedestres e ciclistas.
O engenheiro e assessor especial da Itaipu, Panfilo Benitez Estigarriba, afirmou que a obra é muito importante para o Brasil e Paraguai. “São 1300 metros de extensão de ponte, com ciclovia e até estrutura especial anti-suicídio, com 22 metros sobre o Rio Paraguai, que não vai atrapalhar a navegação e trará progresso a todos”.
João Carlos Parkinson, coordenador nacional dos Corredores Rodoviário e Ferroviário Bioceanicos da Secretaria de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, lembrou que este momento foi o resultado de muito trabalho, que passaram por dificuldades e que agora é uma realidade. “Finalmente se rompe com o isolamento e assim oferece melhores condições a toda região. Início de uma nova era, que vai exigir preparação e qualificação da mão de obra local, para atender as demandas deste mercado de trabalho”. O presidente da Assembleia Legislativa, Paulo Corrêa, descreveu o ato como histórico, pois se trata de uma obra que vai juntar Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. “Esta rota vai possibilitar uma melhor comercialização dos nossos produtos. Muito feliz em participar deste evento e fazer parte desta história”.