*Por Victor de Almeida Moreira
A semana de quatro dias de trabalho tem ganhado destaque no Brasil, com empresas interessadas em participar de um período de teste desse modelo. O estudo será conduzido pela organização sem fins lucrativos “4 Day Week” em parceria com a Reconnect Happiness at Work. Mas de onde surgiu e como esse tema se desenvolveu ao longo da história?
Em 1930, o renomado economista britânico John Maynard Keynes argumentou em seu livro “Economic Possibilities for our Grandchildren” (Possibilidades econômicas para nossos netos) que o progresso tecnológico e o aumento da produtividade levariam as pessoas a trabalharem apenas 15 horas por semana no futuro. Essa visão de redução do tempo de trabalho ressurgiu algumas vezes ao longo do século XX, impulsionada por movimentos trabalhistas e sindicatos que buscavam melhores condições na qualidade de vida.
Nos anos 1970, em meio à crise do petróleo e a alta de desempregos, debates sobre a implementação de uma semana de trabalho de quatro dias ganharam força como uma resposta a esses desafios.
Recentemente, essa discussão voltou com vigor devido à rápida evolução tecnológica, as promessas de alta produtividade e seus possíveis benefícios na qualidade de vida.
Diversos países já embarcaram nessa jornada com resultados positivos. No Japão, por exemplo, a Microsoft permitiu que seus funcionários trabalhassem apenas quatro dias por semana e obteve um aumento de 40% na produtividade, levando a empresa a adotar a mudança permanentemente. Na Islândia, um estudo envolvendo 2.500 trabalhadores revelou redução do estresse, maior equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, além de melhorias na saúde e bem-estar.
São inúmeros os exemplos de sucesso. No entanto, há que se destacar que a semana de trabalho de quatro dias não se trata apenas de reduzir os dias trabalhados. É um conceito mais amplo, que busca uma reorganização da dinâmica de atividades para eliminar a carga de trabalho desnecessária e manter apenas o trabalho essencial, sem redução salarial ou de benefícios.
A implementação bem-sucedida desse modelo se baseia nos pilares de aumento de produtividade, priorização de atividades-chave e melhoria de processos. E a construção desses pilares requer uma metodologia estruturada, incluindo (i) a avaliação cuidadosa de viabilidade para cada empresa, considerando particularidades internas e do setor, (ii) um planejamento adequado com diretrizes claras, (iii) a adoção de técnicas de produtividade e gestão do tempo, (iv) treinamentos e suporte durante o período de transição e adaptação, (v) uma comunicação eficiente e (vi) eventuais investimentos em automação de processos.
É também fundamental que haja um acordo entre a empresa e os funcionários, para alinhar resultados e necessidades de ambos os lados. Quando a semana de trabalho de quatro dias é bem implementada, as organizações demonstram valorizar seus funcionários, passando uma mensagem do tipo “eu confio no valor que você pode gerar independente do tempo que eu te faça trabalhar”. É uma mensagem muito poderosa, que promove um ambiente de confiança e engajamento, e resulta em colaboradores satisfeitos e motivados que, naturalmente, se tornam mais produtivos e comprometidos com seus trabalhos. Esses resultados se projetam facilmente em maior eficiência, qualidade e desempenho.
Não por outra razão, uma implicação comum à praticamente todas as organizações que adotaram esse sistema é a significativa redução no turnover (rotatividade de empregados), pois, colaboradores mais felizes tendem a se manter em seus empregos, ao mesmo tempo que, com o aumento da produtividade, organizações tendem a reduzir as demissões.
Em resumo, a implantação da semana de trabalho de quatro dias pode trazer diversos benefícios tanto para a empresa, quanto para o funcionário, levando diretamente a melhorias na motivação, no engajamento, na produtividade e no bem-estar dos colaboradores; refletindo, consequentemente, em resultados significativos para a empresa.
Victor de Almeida Moreira é engenheiro de produção com MBA em Engenharia de Custos.