*Marcus Nakagawa
Neutralidade zero das emissões de efeito estufa, meta de 50% de corte das emissões, economia verde, aumento de empregos com tecnologias verdes e sustentáveis, emergência climática, energia renovável, Acordo de Paris, ODS, afinal, o que todos estes termos têm a ver com o programa de TV Big Brother?
Ressalto aqui, inicialmente, a enorme importância para o planeta e para nós habitantes, deste grande encontro realizado na última semana, nos dias 22 e 23 de abril, chamado Cúpula do Clima. O evento foi organizado pelo governo do novo presidente dos EUA, Joe Biden, reforçando suas promessas de campanha e o novo posicionamento em relação à governança global do meio ambiente e das mudanças climáticas, em comparação à catastrófica gestão anterior. Mais de 40 países foram convidados a participar, a discursar, a se posicionar e se comprometer com as demandas e urgências que temos para esta discussão tão improrrogável.
Aliás, para quem não conhece a pauta ambiental do aquecimento global, ou como já é chamada de emergência climática, é importante que entenda que grande parte das nossas ações, escolhas de consumo e atividades estão afetando diretamente este tema. Não é a piada que sempre escutamos: “Mas como tem aquecimento global se hoje o dia está friozinho?”. Sim, a discussão é que desenvolvemos uma economia e um estilo de vida que acabam gerando muitas emissões de CO2 e outros gases na atmosfera.
Somos responsáveis por uma extração não-sustentável dos nossos recursos naturais, realizando queimadas, desmatamentos e outras atividades que são danosas e “caras” ao ambiente em que vivemos. E, também, por utilizarmos fontes à base de combustíveis fósseis como petróleo, carvão, entre outros.
Pois é, não vemos estes gases que tanto se falou na Cúpula, não sentimos tão fortemente este aquecimento e este efeito estufa que tanto preocupa. Porém, já temos pessoas no mundo que precisaram se mudar de suas casas em razão destas mudanças no clima, que são os refugiados climáticos. Ou ainda temos que fazer transformações no campo e nas produções dos nossos alimentos em função de tudo isso, encarecendo ou diminuindo a produção.
Temos secas, furacões, tufões e mudanças drásticas no clima, o que afeta diretamente muitas pessoas e os preços de diversos insumos, alimentos e produtos. É isso e muito mais (mas muito mais mesmo) que vários cientistas, especialistas, governos, empresas e sociedade civil vêm discutindo ao longo das Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, as famosas COP, que inclusive, terá sua próxima edição em novembro deste ano, em Glasgow.
Ainda falando sobre a Cúpula, também pudemos ouvir alguns convidados como a indígena brasileira Sinéia Wapichana, do Conselho Indígena de Roraima (CIR), da Terra Indígena Raposa Serra do Sol; o papa Francisco; Alok Sharma, presidente da CoP 26; Xiye Bastida, jovem ativista do movimento Fridays for Future; Bill Gates, fundador da Microsoft; entre outros. Destaque para o papa Francisco, que em seu discurso afirmou que a mudança climática é um dos fenômenos mais graves e preocupantes que a humanidade está vivendo e que precisamos de honestidade, responsabilidade e valentia. Outro destaque para Bill Gates, que ressaltou a importância da necessidade de um enorme investimento público e privado em inovação para atender estas metas globais. Gates sempre foi engajado com temas sociais e ambientais e, recentemente, escreveu um livro superbacana: “Como evitar um desastre climático” e tem uma série interessante sobre inovações sociais e ambientais, na Netflix.
Mas, e o que o Big Brother Brasil tem a ver com tudo isso?
Estava analisando as falas e discursos dos vários convidados, líderes, presidentes, inclusive o do Brasil, e me lembrei muito do confessionário do BBB, no qual os participantes ficam se explicando, prometendo ou se posicionando em relação ao conflito que rolou na festa passada.
Na verdade, não assisto, pois neste horário estou dando aulas, mas sempre vejo alguns trechos e afins. Não quero minimizar a Cúpula, mas pensei nesta analogia para explicar mais didaticamente este processo. Ou seja, temos que ver, acompanhar e cobrar essas metas, promessas e objetivos estipulados no “Confessionário” do Clima. Assim como no BBB, milhares de pessoas acompanham o dia-a-dia dos confinados e votam, e um ponto importante é o “walk the talk”, ver se a pessoa realmente mudou o seu comportamento, cumpriu o que prometeu no confessionário ou atuou de uma forma diferente.
No caso da Cúpula e, principalmente, no caso do Brasil, precisamos acompanhar as promessas, as metas, os investimentos, os indicadores, por exemplo, os números de desmatamento e de mortes de ambientalistas e jornalistas. Precisamos nos juntar com organizações da sociedade civil e movimentos da área ambiental e climática para entender mais sobre o tema e ajudar na mobilização para o controle e para que sejam cumpridas as metas e promessas.
Neste BBB você também pode votar com muita consciência, só que você não pode desligar a TV e dormir. Se desligar neste caso, talvez não tenha mais o que assistir. Continue ligado nas questões das mudanças climáticas, participando, atuando e votando!
* Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS);www.marcusnakagawa.com, www.blogmarcusnakagawa.com; @ProfNaka