O ano de 2020 foi, definitivamente, um período de restrições nos núcleos familiares e de maior vínculo entre aqueles que moravam sob o mesmo teto. Com a convivência limitada a um menor número de pessoas por conta dos cuidados com a saúde e as medidas de prevenção do Covid-19, crianças de todas as idades passaram a dividir ainda mais seus dias com seus irmãos e responsáveis, sejam pais, mães, avós ou outros adultos. E, em muitos casos, o desenvolvimento infantil foi questionado.
Fato é que, independente da faixa etária, algumas ações e atividades diárias são, sabiamente, importantes para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e educacional das crianças e acabam sendo responsáveis pelo aprimoramento intelectual, emocional e social delas. Isso é possível na medida que exista uma participação ativa e que interação com pessoas, objetos e símbolos no ambiente onde estão inseridas.
Neste contexto, a atividade de brincar é de extrema importância, pois garante que os pequenos sejam vistos e reconhecidos como seres com sentimentos, uma vez que envolve uma série de atividades, é um faz de conta onde eles se soltam e podem soltar a imaginação. E, como mãe e como empreendedora que convive diariamente com desejos familiares, entendo que é importante que os adultos utilizem o lúdico também como um instrumento facilitador do saber.
É brincando que a criança cultiva e absorve sobre a realidade e a cultura na qual está inserida, experimentando diferentes papéis sociais – mãe, pai, bombeiro, professor, super-heroína -, entre outras tantas. E, nesse cenário, cabe a nós demonstrarmos curiosidade sobre o que se está sendo dito e estar aberto a conversas e a explicações a fim de explorar as mais diversas formas de comunicação e de raciocínio de uma criança.
E pode parecer bobagem para alguns, mas é no lúdico e na fantasia que estão as preparações para a entrada no mundo adulto. Esse ambiente permite que a criançada se expresse de forma segura, externando seus medos, angústias e as tentativas de resolução de seus conflitos internos – seja trocando roupas daquela boneca preferida, chamando a atenção do animal de estimação por fazer uma traquinagem indevida ou ainda mesmo quando abraça aquela pelúcia companheira de sono que a criança constrói situações que reproduzirá no futuro.
E, como bem pontua o psicólogo, pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças, Lev Semionovich Vygotsky: “é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos entendendo que a criança internaliza sua realidade através da simbolização”.
Por isso, é preciso incentivar o brincar e valorizar essa ação, aparentemente tão inocente, mas que é tão importante para o adulto de amanhã, uma vez que a brincadeira cria as zonas de desenvolvimento qualitativos, permitindo apropriação de códigos culturais e de papéis sociais. Ou seja, esse ato, aparentemente simples, desempenha um papel igualmente individual e social, permitindo aos pequenos aprender a partilhar, a cooperar, a comunicar e a relacionar-se, desenvolvendo a noção de respeito por si e pelo outro, bem como sua autoimagem e autoestima.
Às famílias: brinquemos!
* Natiele Krassmann é Co-fundadora da marca Criamigos, rede de franquias de pelúcias personalizáveis