Acne e alimentação: qual a relação entre esses fatores?

*Por Dra. Lilian Odo, dermatologista nas Clínicas ODO

A acne é um dos problemas de pele mais comuns entre os brasileiros. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), essa condição foi o principal motivo de consultas dermatológicas em 2018. E segundo levantamento realizado em 2019, pela Euromonitor, o Brasil é o segundo país que mais compra produtos para tratamento de acne no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

De tudo o que se ouve falar sobre acne, a relação entre esse processo inflamatório e a alimentação ainda é um aspecto amplamente discutido. Por isso, nos últimos 50 anos, médicos e pesquisadores têm se dedicado a entender qual a verdadeira relação entre esses dois fatores.

O surgimento da acne

Acne vulgar é o nome dado ao processo inflamatório dos folículos pilossebáceos, que ficam obstruídos por gordura e restos celulares, por isso o corpo não consegue eliminar essas impurezas, resultando na formação dos cravos. Com a proliferação bacteriana, ocorre a inflamação gerando as espinhas. Existem muitas causas para o seu aparecimento, como: fatores genéticos, alterações hormonais, altos níveis de estresse, o uso de alguns medicamentos, suplementos e maquiagens comedogênicas.

A acne geralmente se manifesta como: comedões, popularmente chamados de cravos, que podem ser abertos (brancos) ou fechados (pretos); ou pápulas – pequenas lesões elevadas, avermelhadas e endurecidas; ou pústulas – que são as pápulas que contém pus, as espinhas; ou, até nódulos e cistos, lesões maiores e em tecidos mais profundos da pele.

É comum a acne se externar na puberdade, quando os hormônios sexuais, que podem provocar desequilíbrios na glândula sebácea, começam a ser produzidos. Mas ela pode se manifestar em qualquer idade – acne infantil (rara) e adulta – ou situação (quando ocorrem alterações hormonais, por exemplo). De acordo com a SBD, esta condição afeta quase 90% dos adolescentes e 56,4% da população adulta.
É importante que o tratamento seja precoce – já que, se for um problema recorrente na adolescência e não tiver o cuidado correto, a acne pode evoluir na idade adulta (causando manchas e cicatrizes difíceis de serem tratadas).

O tratamento depende da gravidade, localização e características de cada paciente. Pode envolver o uso de cremes, produtos manipulados, ou até remédios sistêmicos, que podem ser combinados com antibióticos e/ou ácidos específicos. Para mulheres, existe também o tratamento com anticoncepcional. Quando não há boas respostas aos tratamentos, ou o médico nota uma tendência à formação de cicatrizes, pode ser indicado o uso de isotretinoína oral com acompanhamento médico periódico.

Em paralelo, podem ser realizados procedimentos dermatológicos para acelerar os resultados, como: peelings químicos, microdermoabrasão, alguns tipos de lasers, luzes, microagulhamento, radiofrequência ablativa e não ablativa, raio de plasma, preenchimento e até técnicas cirúrgicas para a remoção de cicatrizes.

Acne X Alimentação

Nossa compreensão sobre a doença acne segue em evolução. Sabe-se que vários fatores impactam o seu desenvolvimento e que a dieta faz parte dessa discussão. As aberrações mediadas pela dieta, na quantidade e composição do sebo, promovem o supercrescimento de bactérias no folículo piloso que estimulam a proliferação das células locais, formação de cravos e a inflamação.

Todos os alimentos que aumentam excessivamente a insulina sanguínea e/ou estimulam o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1) ativam um complexo de proteínas denominado mTORC1, que induz processos anabólicos, como a síntese de gordura. Os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs), glutamina e palmitato também têm essa ação e devem ser evitados em indivíduos com acne.

Evidências científicas apontam que as três principais classes de alimentos que promovem a acne são: 1) carboidratos de alto índice glicêmico (IG) ou com altas taxas de açúcar; 2) leite e derivados; 3) gorduras saturadas, incluindo gorduras trans ou deficientes em ácidos graxos poliinsaturados.

Alimentos que contenham muito açúcar e farinha branca (como ultraprocessados industrializados), por exemplo, afetam a secreção de insulina e de andrógenos no corpo – aumentando a produção de sebo pela pele, podendo causar lesões características de acne. Os laticínios também foram foco de estudos: as proteínas do soro do leite são responsáveis pelos efeitos insulinotrópicos e por isso contribuem mais para o desenvolvimento da acne do que o conteúdo de gordura ou outras substâncias do leite.

Ao mesmo tempo, também existem alimentos que podem ser benéficos para a pele com acne, como: os ricos em ômega 3 e 6 (como peixes e verduras de cor verde-escuro), vitamina E (oleaginosas, como castanhas, por exemplo), zinco (como carnes e ovos), vitamina A (presente, na cenoura e abóbora) e selênio.

Pesquisas recentes sobre os efeitos da administração de probióticos em indivíduos com acne apresentaram resultados promissores em reduzir lesões, mas estudos mais aprofundados são necessários para apoiar as descobertas dessas investigações iniciais.

Os pacientes devem equilibrar a ingestão total de calorias e restringir os carboidratos refinados, leite, suplementos de proteínas lácteas, gorduras saturadas e gorduras trans. Tais escolhas na dieta podem melhorar os resultados terapêuticos em relação à acne e possivelmente, reduzir o risco de recaída após a interrupção do tratamento.

Vale reforçar que uma dieta saudável, equilibrada e balanceada é fundamental para a saúde e para o funcionamento do corpo como um todo, e não apenas da pele.

A Dra. Lilian Odo é dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia.