Com a pandemia, a área de recursos humanos passou a ter ainda mais foco e preocupação com os colaboradores e o tema acabou se expandindo para toda a liderança. Em 2020, muito se falou sobre programas de bem-estar, saúde mental, employee experience (ou experiência do colaborador – em português), felicidade no trabalho, entre outros fatores. Mas, afinal, o que é a felicidade corporativa?
O tema já é falado e discutido nas empresas europeias há alguns anos, segundo Madalena Carey, fundadora da Happiness Business School, de Portugal, “a felicidade no trabalho é como as pessoas se sentem, é sair da cultura de ‘dar algo’ – para ‘fazer com que os colaboradores sintam algo’, além de deixar que sejam quem são”, explica Carey.
Renata Rivetti – fundadora e diretora da Reconnect | Happiness at Work – empresa brasileira que firmou parceria exclusiva com a Happiness Business School de Portugal no ano passado – “não adianta as empresas acreditarem que farão os funcionários felizes somente com o aumento dos salários, bônus ou benefícios, pois quando eles conquistarem isso, continuarão na busca incessante pelo mito da felicidade de que ‘só somos felizes quando obtemos algo material’”.
Pensando nisso, qual é o papel da liderança e da área de Recursos Humanos na felicidade do time?
Os programas de bem-estar e saúde mental são necessários, assim como também é preciso prestar atenção nas experiências dos colaboradores (employee experience). É possível fazer isso através da equação de três fatores de Jacob Morgan – autor de três best-sellers e co-fundador da Comunidade do Futuro do Trabalho – são eles: cultura, tecnologia e espaço físico.
Porém, quando se fala em felicidade é importante ir um pouco além. Não adianta a jornada do colaborador ser “perfeita” se a pessoa não sentir que pertence ao time ou que é reconhecida. Ou seja, felicidade vem de como nos sentimos e não do que recebemos.
Segundo a consultoria Robert Half, com mais de 23 mil pessoas por todo o mundo, a felicidade está ligada ao sentimento de empoderamento, valorização, trabalho interessante e significativo, senso de igualdade e relações de trabalho positiva.
Rivetti mostra um exemplo simples: “não adianta o novo colaborador receber um ‘super kit’ com brindes/mimos, além de um computador novo e potente para trabalhar em home office, se ninguém recebe essa pessoa como – um mentor – para incluí-la na cultura da empresa”. “Mais do que receber um kit com máscara personalizada, álcool em gel e outros mimos, os novos funcionários precisam e querem sentir-se acolhidos, pertencentes àquele novo ambiente”, explica Rivetti.
Amy Wrzesniewski, professora de Yale, realizou uma pesquisa com faxineiros do hospital da universidade americana e constatou que havia “dois grupos” distintos. Enquanto um grupo enxergava o trabalho exatamente como descreve o job description, o outro tinha um propósito que ia além do que limpar o ambiente.
Este segundo grupo notava quais pacientes não haviam recebido visitas, quais estavam tristes, e com isso, eles passavam nos quartos para fazer a limpeza mais de uma vez por dia – quando interagiam com as pessoas que estavam internadas. Ou seja, esse grupo de faxineiros via o trabalho como missão, não somente um emprego, e sentiam que ajudavam pacientes a se curarem.
Isso, obviamente, não está em seu job description, mas mesmo assim eles fazem e se sentem mais felizes e realizados. O resultado é maior produtividade e engajamento. “Na Reconnect sabemos que não dá para falar de felicidade e fazer as mudanças de um dia para o outro. Precisamos educar as pessoas, principalmente a liderança, mostrando que a felicidade resulta no sucesso”, explica Renata. “Mudar o mindset, quebrar mitos e crenças que todos carregam é um processo que precisa de esforço e dedicação. Mas nós acreditamos que é possível e sempre sugerimos que as empresas comecem com o primeiro passo”, conclui Renata.
Há alguns anos falar de felicidade nas empresas parecia um sonho impossível. Hoje parece muito real e viável.