Revisão de mais de 100 estudos mostrou que o leite materno pode fornecer anticorpos para os recém-nascidos, além de proteger contra distúrbios gastrointestinais associados à Covid-19.
Uma revisão feita por pesquisadoras do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), publicada no Physiological Reports, mostrou a importância de manter a amamentação durante a Covid-19. Os mais de 100 estudos revisados indicam que o leite materno, além de transferir anticorpos para o bebê, também fornece moléculas bioativas que têm ação antimicrobiana, como caseínas, lactoferrinas, proteínas do soro do leite e triptofano. O trabalho foi coordenado pela professora Patrícia Gama, que estuda os efeitos do desmame precoce no trato gastrointestinal há mais de 30 anos.
Muitos estudos já mostraram que os componentes do leite conferem proteção ao intestino, estimulando o sistema imune. Também já existem evidências de que essas moléculas protegem o recém-nascido contra infecções virais. “Crianças que são desmamadas precocemente apresentam maior incidência de infecção por rotavírus, causador da gastroenterite, por exemplo”, afirma Aline Vasques da Costa, uma das autoras da revisão. O grupo analisou trabalhos sobre os componentes do leite materno individualmente, inflamações intestinais e os efeitos gastrointestinais na Covid-19, pneumonia e outras doenças virais.
O objetivo era investigar por que as crianças são menos acometidas pelo SARS-CoV-2 e se a amamentação poderia ter um papel protetor contra o vírus. Foi verificado que as moléculas presentes no leite previnem infecções virais que causam distúrbios gastrointestinais. A lactoferrina, por exemplo, já foi testada e demonstrou potencial antiviral contra o SARS-CoV-1, responsável pela epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave em 2003, conforme explica a pesquisadora Carolina Purcell Goes.
Outras pesquisas mostraram que mães que se recuperaram da Covid-19, e estavam em fase de amamentação, apresentavam anticorpos IgA no leite. “A literatura mostra que os níveis de IgA são mantidos até 7 meses após o início da amamentação”, afirma Patrícia Gama. A conclusão das cientistas é que, ao serem transferidos para o bebê, esses anticorpos poderiam prevenir a infecção por SARS-CoV-2 ou ao menos reduzir a severidade dos sintomas. Além disso, os demais componentes ampliariam essa proteção.
“Quando nós estudamos os elementos do leite separadamente, vimos que todos têm um papel importante no quadro de inflamação intestinal. E juntas, essas moléculas tornam o leite um alimento muito importante na proteção das crianças”, destaca a professora.
O artigo “Breastfeeding importance and its therapeutic potential against SARS‐CoV‐2” está disponível aqui.