Cirurgia de correção pode ser feita em bebês em casos de estrabismo congênito
O estrabismo ainda é uma condição oftalmológica repleta de dúvidas e mitos. Um dos principais equívocos é pensar que se trata de um problema meramente estético.
“Porém, o atraso no diagnóstico e tratamento do estrabismo pode levar à perda da visão binocular, essencial para exercer diversas profissões, como a de piloto de avião, por exemplo”, ressalta Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra especialista em estrabismo.
Importância da visão binocular
Há quem pense que a visão 3D só serve para vermos filmes no cinema. Entretanto, inúmeras profissões exigem uma visão binocular intacta e um sistema visual saudável. Comissário de bordo, médico cirurgião ou outras profissões que utilizam microscópio para exercer suas atividades são alguns exemplos.
“A visão binocular (estereopsia) ocorre quando o cérebro funde as duas imagens captadas pelos olhos em uma só. Essa visão é fundamental para enxergar um campo visual maior e para dar a noção de profundidade, assim como para vermos imagens em 3D”, explica a especialista.
“Em crianças com estrabismo não tratado ou ainda com um manejo não eficaz da condição, o cérebro passa a ignorar a imagem do olho com o desvio. A expressão ‘olho preguiçoso’ (ambliopia) retrata exatamente isso, ou seja, esse olho não é mais usado e tem seu desenvolvimento comprometido”, alerta Dra. Marcela.
Correção cirúrgica: quando fazer?
O primeiro passo é fazer o diagnóstico para detectar que tipo de estrabismo a criança apresenta. As indicações cirúrgicas e o momento mais adequado para o procedimento variam bastante e são feitas de acordo com o tipo de desvio apresentado.
“Alguns estrabismos, entretanto, não têm indicação cirúrgica. O estrabismo convergente (desvio para dentro), causado por um grau alto de hipermetropia, é corrigido com o uso de óculos”, comenta Dra. Marcela.
Já os casos congênitos desse tipo de desvio podem ser operados antes mesmo da criança completar um ano de idade. Em média, a cirurgia ocorre entre 10 e 18 meses”, explica.
Toda essa pressa em operar bebês não está relacionada à estética, mas sim à tentativa de tentar restabelecer, nem que seja um pouco, a visão binocular dessa criança e evitar o desenvolvimento da ambliopia.
“O estrabismo divergente intermitente (desvio para fora que ocorre de vez em quando) é menos prejudicial para a visão binocular. Nesses casos é possível esperar um pouco mais para fazer a cirurgia”, comenta a oftalmopediatra.
Intervenção precoce
O diagnóstico precoce e o tratamento do estrabismo, bem como da possível ambliopia gerada pela condição, devem ocorrer o mais cedo possível.
“Quando o sistema visual estiver maduro, o que ocorre após os sete anos de idade, mesmo que seja possível alinhar os olhos por meio da cirurgia, as sequelas visuais deixadas pelo desvio não podem ser revertidas”, ressalta Dra. Marcela.
“Embora não haja nenhum impedimento para corrigir o estrabismo em crianças mais velhas, adolescentes ou adultos, a precocidade da cirurgia aumenta a probabilidade de melhora e/ou desenvolvimento da visão binocular, mesmo que parcialmente”, finaliza a especialista.