Mulheres são mais afetadas que os homens e doença pode levar até 4 anos para ser diagnosticada
O blefaroespasmo é uma condição caracterizada pelo ato de piscar de forma descontrolada. Trata-se de uma distonia focal rara, com uma incidência entre 16 e 133 casos a cada 1 milhão de pessoas. O blefaroespasmo é tão incomum, que pesquisas norte-americanas mostram que os pacientes chegam a visitar quatro médicos antes de conseguir o diagnóstico final.
Segundo a Dra.Tatiana Nahas, oftalmologista, especialista em cirurgia de pálpebras e Chefe do Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, o blefaroespasmo é caracterizado por contrações espasmódicas bilaterais dos músculos ao redor dos olhos, especificamente da musculatura que controla o movimento das pálpebras e dos cílios.
Sinais e sintomas
Entre os principais sintomas estão o aumento da frequência e da duração do ato de piscar. Além disso, pode haver dificuldade para manter os olhos abertos. A produção das lágrimas também é prejudicada.
“Com os danos no filme lacrimal, surgem os sintomas típicos do olho seco, como irritação, fotofobia (sensibilidade à luz) e sensação de corpo estranho”, comenta Dra. Tatiana.
Um estudo mostrou que no início do quadro, mais da metade dos pacientes com blefaroespasmo apresenta queixas oftalmológicas de irritação ocular. Portanto, esse é um importante sinal de alerta.
Cegueira funcional
Com o aumento dos espasmos, é possível que a pessoa desenvolva a chamada cegueira funcional, já que não consegue mais manter os olhos abertos o suficiente para enxergar. Assim, a doença pode se tornar incapacitante.
“A contínua ação das forças oponentes dos músculos das pálpebras, que atuam na abertura e no fechamento dessas estruturas, alguns pacientes podem desenvolver ptose palpebral (queda da pálpebra), bem como ectrópio e entrópio, com reversão da borda das pálpebras e crescimento anormal dos cílios”, relata Dra. Tatiana.
Estresse pode ser gatilho
A origem do blefaroespasmo ainda é um mistério para a medicina. Entretanto, pesquisas apontam que a genética tem um papel importante no desenvolvimento da doença, já pode ser encontrada em vários membros de uma mesma família.
“Os eventos estressantes importantes, como mortes na família, divórcio, desemprego, problemas financeiros ou a própria pandemia que vivemos hoje, por exemplo, podem contribuir, ser uma espécie de gatilho para desenvolver o blefaroespasmo”, ressalta Dra. Tatiana.
Diagnóstico diferencial
O blefaroespasmo pode ser secundário, ou seja, ser uma comorbidade de outras condições oftalmológicas, como síndrome do olho seco, entrópio espástico, triquíase, blefarite, uveíte, catarata subcapsular, entre outras condições. Por isso, o ideal é procurar um especialista, ou seja, um oftalmologista especializado em doenças das pálpebras.
Tratamento com toxina botulínica
Um dos tratamentos mais usados para tratar o blefaroespasmo é a aplicação da toxina botulínica. “A substância é injetada nos músculos palpebrais para enfraquecê-los. Isso bloqueia os impulsos nervosos que causam a contração ininterrupta. Geralmente, é preciso repetir a aplicação a cada três ou quatro meses”, diz a Dra. Tatiana.
Infelizmente, há casos em que só procedimentos cirúrgicos podem resolver. Há várias opções cirúrgicas. “Uma delas é remover toda a musculatura da pálpebra superior e parte da pálpebra inferior. Essa técnica é chamada de miectonia limitada. Ela melhora os aspectos funcionais e os estéticos do paciente”, completa a médica.
“É importante ressaltar que embora raro, o blefaroespasmo representa um importante fator de risco para a cegueira funcional, afeta a qualidade de vida e a execução de atividades diárias, como sair de casa, cozinhar, ler, etc. Mas, o tratamento reverte essa condição. Quanto mais cedo for feito, melhor será o resultado”, conclui Dra. Tatiana.