Casos de dengue aumentam em 2022: por que esse surto voltou?

Menor do que os mosquitos comuns, preto com listras brancas no tronco, na cabeça e nas pernas, de asas translúcidas e zumbido quase inaudível ao ser humano: esse é Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. Em meio a um surto da doença, o Brasil registrou nos quatro primeiros meses de 2022 um aumento de 113,7% nos casos registrados, em comparação ao mesmo período do ano passado. De acordo com um boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, foram 542 mil casos até abril, com maior taxa de incidência na região Centro-Oeste do país. No ano de 2021, o Brasil somou 544 mil casos. Logo, os índices de 2022 registrados nos primeiros quatro meses representam o mesmo montante de todo o ano passado.

A dengue geralmente aparece no verão, quando esquenta ou chove muito. As frequentes chuvas em várias regiões do país nos últimos meses somadas à deficiência de infraestrutura urbana em muitas regiões do Brasil estimularam a proliferação do Aedes, gerando maior transmissibilidade.

Infectologista do São Cristóvão Saúde, o Dr. Jorge Isaac Garcia Paez explica que há quatro tipos do vírus da dengue, determinados por diferenças antigênicas, com algumas variações genéticas em cada sorotipo: “Existe o DEN-1, o DEN-2, o DEN-3 e o DEN-4; entretanto, esses sorotipos causam os mesmos sintomas no ser humano. O sistema imune reconhece cada sorotipo e, por isso, a pessoa só pega dengue por um sorotipo especifico uma vez na vida. Portanto, nós só podemos pegar dengue 4 vezes”.

O especialista acrescenta que os quatro sorotipos são transmitidos por meio da picada de insetos da ordem dos dípteros hematófagos, principalmente do mosquito Aedes aegypti. “Ele é um vetor muito eficiente por ser uma espécie urbana e altamente antropofílico. A coinfecção natural é rara e pode acontecer em áreas altamente endêmicas”, afirma o especialista, reforçando a ideia de que o comum é pegar a infecção por um sorotipo.

Alerta

Com a introdução do sorotipo 4, último a circular pelo Brasil, portas podem ser abertas para novas epidemias, pois a grande maioria da população ainda não teve contato com este sorotipo. “Atualmente, estamos num surto de dengue. Entretanto, ainda faltam dados da Secretaria da Saúde para saber exatamente a porcentagem de circulação dos diferentes sorotipos. Dessa forma, o melhor tratamento é a prevenção. Não existe um tratamento específico e a medicação é usada para o controle de sintomas e das formas graves”, esclarece o infectologista. Dr. Jorge Paez elenca alguns dos sintomas clássicos de dengue como alerta sobre quando procurar orientação médica:

  • Febre alta de início abrupto, seguida de cefaleia, mialgia, prostração, artralgia, anorexia, astenia, náuseas, vômitos, ou sangramentos, entre outros sintomas.
  • Além disso, de acordo com o médico, alguns perfis de pacientes podem apresentar evolução desfavorável e devem ter acompanhamento diferenciado, como lactentes (menores de 2 anos), gestantes, adultos com idade acima de 65 anos, com hipertensão arterial ou outras doenças cardiovasculares graves, diabetes mellitus, DPOC, doenças hematológicas crônicas (principalmente anemia falciforme), doença renal crônica, doença ácido-péptica e doenças autoimunes.
  • Para se proteger da temida picada do mosquito da dengue, Dr. Paez ressalta que a prevenção ainda é a melhor forma de controlar a transmissão. Alguns locais são ideais para a fêmea do mosquito colocar seus ovos, ocasionando a proliferação: “Temos que manter o domicílio limpo, eliminar os possíveis criadouros, sempre mantendo os reservatórios de água parada com proteção e evitando outros possíveis acúmulos de água parada, como em vasos de plantas. É preciso dar destino correto a objetos que acumulam água, como potes, garrafas e pneus que possam servir como criadouro. Repelentes, inseticidas, telas em janelas ou portas em áreas com alta circulação de mosquitos também são eficazes no combate ao inseto”, finaliza Dr. Jorge Garcia Paez.