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Que atire a primeira pedra quem nunca comeu um tiquinho a mais só porque a comida estava muito saborosa. Seja numa festinha de aniversário, em um churrasquinho no fim de semana, ou em um simples jantar em casa, a gula é um dos pecados capitais mais presentes no nosso cotidiano, tanto que tem até data própria: 26 de janeiro. Porém, se não observado com o devido cuidado, o ato de se alimentar além do que a fome exige pode se transformar em um transtorno grave e causar prejuízos à saúde.
A psicóloga Juliana Meneghelo explica que exagerar na comida vez ou outra como forma de aliviar o estresse pode acontecer com qualquer um. Episódios desse tipo são conhecidos como fome emocional e só se configuram um transtorno caso aconteçam com constância.
“Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (DSM-IV-TR), a compulsão alimentar pode ser compreendida como transtorno quando ocorrem episódios frequentes, pelo menos duas vezes por semana, e quando esse comportamento se prolonga por um período específico, de pelo menos 6 meses”, destaca a especialista.
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Juliana também ressalta que, para ser caracterizado como Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica, o comportamento deve necessariamente estar acompanhado de outros, como perda de controle, culpa ou vergonha após comer, e não pode estar associado a comportamentos compensatórios para perder peso, como uso de diuréticos, laxantes ou até mesmo vômitos voluntários, o que configuraria um quadro de bulimia.
Além de carregar a culpa pela incapacidade de controle, as pessoas acometidas pela compulsão podem ter problemas sérios de saúde. O transtorno pode acarretar doenças e comorbidades como obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, cálculo renal, apneia do sono, diminuição da capacidade respiratória, gastrite e refluxo.
Mas, para quem sofre com o problema, nem tudo está perdido. Juliana destaca que com comprometimento e o apoio profissional adequado é possível reverter o quadro. Normalmente, o tratamento é feito de forma multidisciplinar, com a participação de psiquiatras e nutricionistas, além de psicólogos. Em alguns casos, o uso de medicamentos é necessário.
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“O primeiro passo é identificar o motivo real da busca pelo alimento”, diz a psicóloga. “A ansiedade é um dos fatores que apresentam relação direta com a compulsão alimentar, pois os estímulos ansiosos para a comida, aos poucos, tornam-se um hábito. Muitas vezes, o ato de comer compulsivamente resulta de quadros associados à fome emocional, que surge de repente e a pessoa se vê dominada por ela.”
Ciente da origem do problema, pouco a pouco, o paciente pode dar pequenos passos que vão levar à melhora de seu quadro. “É importante que a pessoa ingira muita água, não faça dietas restritivas e não fique sem se alimentar por grandes intervalos de tempo”, afirma Juliana.
Porém, destaca a psicóloga, a dica mais importante é encontrar estratégias de manejo da ansiedade. “Buscar atividades de distração para os momentos que a ‘vontade de comer’ bater, como por exemplo ler um livro, passear com o pet, tomar um banho ou ouvir uma música, é de grande ajuda nesses momentos, assim como a prática da respiração profunda”, ressalta.