O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre os homens no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. Segundo levantamento publicado pela revista The Lancet, novos casos da doença no mundo devem dobrar nas próximas décadas, indo de 1,4 milhão em 2020 para 2,9 milhões em 2040. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que surgirão 71.730 novos casos por ano no Brasil entre 2024 e 2025.
A detecção precoce é essencial para aumentar as chances de cura, que podem chegar a 90%, segundo dados do Inca. Com essa finalidade, surgiu o Novembro Azul, uma campanha dedicada a incentivar os homens a fazerem exames regulares e cuidarem integralmente da saúde.
Apesar dos esforços, ainda há muitos receios, dúvidas e preconceitos em torno do câncer de próstata e dos métodos de diagnóstico. Uma pesquisa encomendada pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) neste ano, revela que apenas 34% dos homens buscam um urologista ao perceberem algum sintoma ou desconforto.
Para ajudar a esclarecer, o Dr. Carlo Passerotti, urologista e cirurgião do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, desmistifica algumas crenças populares e esclarece fatos sobre a doença:
Ausência de sintomas significa ausência de câncer de próstata.
Mito
Nos estágios iniciais, o câncer de próstata é geralmente assintomático. Quando surgem, os sintomas podem ser confundidos com outras condições, como infecções urinárias ou hiperplasia benigna da próstata. Os sinais incluem: dificuldade ao urinar, fluxo fraco, necessidade de urinar com frequência, dor ao urinar, presença de sangue na urina ou no sêmen, dor pélvica ou lombar e disfunção erétil. Portanto, é essencial realizar exames regulares, mesmo sem sintomas.
O câncer de próstata afeta apenas homens idosos.
Mito
Embora a incidência seja maior após os 50 anos, o câncer de próstata pode ocorrer em qualquer idade, até mesmo antes dos 40. Cerca de 62% dos diagnósticos acontecem em homens com mais de 65 anos, mas fatores como histórico familiar e obesidade aumentam o risco em qualquer fase da vida.
O exame de PSA, somente, é capaz de identificar a presença de câncer de próstata.
Mito
O exame de PSA mede os níveis do Antígeno Prostático Específico no sangue, o qual é produzido naturalmente pelo tecido prostático e está presente tanto na corrente sanguínea quanto no sêmen. É importante destacar que o PSA pode estar elevado em diversas situações, como infecções, inflamações ou crescimento benigno da próstata.
Portanto, um nível elevado de PSA por si só não é suficiente para diagnosticar o câncer de próstata, mas serve como um forte indicativo para a realização de outros exames. Por outro lado, um PSA baixo não descarta completamente a possibilidade de câncer de próstata, sendo necessário considerar outros fatores e realizar uma avaliação médica completa para obter um diagnóstico preciso.
O exame de toque retal é indispensável, mesmo com PSA normal.
Verdade
O exame de toque retal é um procedimento simples, rápido e indolor, para palpar a próstata e verificar se há alterações em seu tamanho, forma ou consistência. Ele é essencial para complementar o exame PSA, pois permite identificar lesões que podem não ser detectadas pelo teste de sangue.
Além disso, ele pode ajudar a definir a necessidade e a localização da biópsia da próstata, que é o único exame capaz de confirmar o diagnóstico de câncer. Portanto, ambos os exames devem ser realizados juntos para uma detecção eficaz, uma vez que são complementares.
Se não tenho casos na família, o risco de ter câncer de próstata é baixo.
Mito
Embora o histórico familiar aumente o risco, aproximadamente 85% dos casos ocorrem em homens sem parentes diagnosticados. Além disso, fatores como alimentação inadequada, sedentarismo e obesidade têm um papel importante no desenvolvimento da doença. Portanto, todos devem realizar exames regularmente.
Não há sintomas de câncer de próstata em estágio inicial.
Depende
Normalmente, isso é verdade. No entanto, alguns homens podem apresentar sintomas urinários devido ao envelhecimento e ao aumento da próstata, que ocorre com o passar dos anos. Sintomas como dificuldade miccional, aumento da frequência urinária, esvaziamento incompleto e acordar durante a noite para urinar podem ocorrer simultaneamente e causar confusão, podendo ser decorrentes da hiperplasia benigna da próstata. Portanto, é importante consultar um médico urologista para esclarecer a causa dos sintomas e realizar os exames adequados.
Vida sexual ativa, uso de cuecas apertadas ou ficar muito tempo sentado causa câncer de próstata.
Mito
Não há evidências que relacionem esses fatores ao câncer de próstata. Os fatores de risco comprovados incluem tabagismo, consumo excessivo de álcool, dieta inadequada e falta de atividade física. Estudos sugerem que uma vida sexual regular pode até ter efeito protetor.
O câncer de próstata não tem cura e é mortal.
Mito
O câncer de próstata tem cura sim, desde que seja diagnosticado precocemente e tratado adequadamente, as chances chegam a 90% de cura. Os tratamentos incluem cirurgia, radioterapia, braquiterapia, hormonioterapia e quimioterapia, e a escolha do tratamento considera o estágio da doença, o tipo de tumor, a idade e a saúde geral do paciente. O objetivo do tratamento é eliminar o tumor, preservar a função sexual e urinária e evitar as complicações da doença.
Não existe prevenção para o câncer de próstata.
Verdade, porém
Embora não haja uma forma de prevenir o câncer de próstata, algumas medidas podem reduzir o risco ou facilitar o diagnóstico precoce: manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras e grãos integrais; evitar gorduras em excesso; consumir alimentos ricos em licopeno (como tomate); praticar atividades físicas; moderar o consumo de álcool; não fumar; e realizar check-ups regulares.
Transexuais femininas precisam fazer exame de próstata.
Verdade
Sim. Mulheres transgênero, travestis e pessoas não binárias também devem fazer os exames de próstata conforme a recomendação médica. Isso porque elas ainda têm a glândula prostática e podem desenvolver câncer nela. O uso de hormônios femininos pode reduzir o tamanho da próstata e os níveis de PSA, mas não elimina totalmente o risco da doença.