É chegada a hora da educação socioemocional

* por Raj Rani, head de Educação do Zenklub

Impossível negar que 2020 foi o ano mais diferente de nossas vidas. Trancados em casa a maior parte do tempo, por conta da pandemia, repensamos processos, relações e questionamos com mais afinco se temos o que queremos e se isso nos faz feliz. No campo profissional, muitos reavaliaram suas profissões e os cursos online ganharam espaço. O conceito de lifelong learning – que significa, na livre tradução, algo como aprendizado ao longo da vida, onde nunca é cedo ou tarde demais para aprender algo novo – se tornou mais vivo, uma vez que ficou evidente que ter uma boa graduação, uma pós ou MBA não são mais suficientes. Estamos em constante evolução. Por isso, precisamos olhar para a aprendizagem para além da sala de aula, seja ela física ou virtual

Novas habilidades passaram a ser demandadas e as formações curtas, conhecidas como nano degrees, com aulas online, que duram, em média, 6 meses, mostraram que as empresas estão valorizando determinadas habilidades, muitas das quais específicas dessa era tecnológica que vivemos. Mas “olhar para a frente” e buscar o desenvolvimento contínuo por meio de novas habilidades é apenas um lado da história. É preciso olhar para os lados e incorporar aspectos que até então não faziam parte da grade curricular dos programas de educação corporativa. Se antes as habilidades técnicas eram as mais valorizadas no mercado de trabalho, hoje, as socioemocionais estão ganhando espaço. E, sim, é possível aprender a desenvolver essas habilidades.

Habilidades antes não muito valorizadas, passaram a ser vistas como fundamentais e investir no desenvolvimento das mesmas passou a ser prioritário. E a quantidade de palestras e cursos virtuais que se propõe a ensinar temas como empatia, comunicação não-violenta e inteligência emocional só comprovam o interesse e o tamanho desse mercado. Mas o curso online basta? Talvez o laboratório para desenvolver estas habilidades esteja mais próximo do que imaginamos. Estamos cuidando da qualidade das nossas relações com nossos familiares e amigos? Estamos olhando para nossa vida afetiva? Temos uma relação saudável com o dinheiro? Como está a qualidade do nosso sono? Como estamos nos alimentando?

Ao que tudo indica, os profissionais estão sedentos por conhecimento e aprendizado além da esfera profissional. Entre os profissionais que têm como benefício o acesso à plataforma do Zenklub, conteúdos diretamente relacionados à carreira ficaram apenas em 3º lugar, atrás de temas relacionados à autoconhecimento, saúde e bem-estar. Conteúdos relacionados a sexo, amor líquido, cuidado com o corpo e sono entraram para lista de mais consumidos.

Chegou a hora de olharmos não só para lifelong learning, mas para o lifewide learning, que agrega uma abordagem de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal em contextos reais e ambientes autênticos, revelando ser preciso aprender e se desenvolver nas diferentes esferas da vida. Acredito ser importante levar ao máximo a ideia de que estamos sempre aprendendo e que o aprendizado fora da sala de aula (física ou virtual), aquele que conseguimos extrair de uma ida ao museu, de um livro, uma conversa, uma viagem ou mesmo um trabalho voluntário é importante e impacta diretamente nossas habilidades no trabalho.

Temos que buscar um olhar mais carinhoso para o nosso desenvolvimento profissional, um olhar baseado em cidadania, bem-estar individual e coletivo. Chegou a hora de colocarmos a educação socioemocional em destaque, aprendermos como nos tornar pessoas melhores e mais equilibradas. Precisamos de gestores e líderes com abertura para falar sobre as emoções e preparados para acolher de forma responsável diversas situações. O ganho é para todos.