Especialista comenta o Oscar 2015

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A premiação do filme “Birdman ou (a inesperada virtude da ignorância)”, de Alejandro G. Iñárritu, demonstra uma interessante mudança de paradigma na Academia. “Birdman…” trata com muita ironia o star system hollywoodiano, o circo do entretenimento e discute o real valor da arte.

Com diálogos espirituosos e sagazes, a história de Riggan Thomson em busca de uma redenção artística encantou os membros da Academia e arrebatou quatro prêmios Oscar. Os prêmios são significativos, visto que, além de melhor filme, são relacionados à construção da narrativa (fotografia, roteiro original e direção).

Há semanas fala-se do favoritismo de “Boyhood”, mas devido a uma característica inadequada: o fato de ter levado doze anos para ser realizado, com o intuito de acompanhar o crescimento dos atores para registrar isso em seus personagens, fez muitos pensarem que seria justificativa para dar o prêmio principal para o filme. Acontece que mesmo sendo tal processo interessante, isso não é garantia de se obter uma obra incontestável e envolvente. A premiação de atriz coadjuvante para Patricia Arquette acabou por ser um prêmio de consolação.

Outros dois filmes que fizeram bom papel na premiação do último dia 22 foram “Whiplash” e “O Grande Hotel Budapeste”. O primeiro conseguiu a óbvia premiação para J. K. Simmons, mas também de Mixagem de Som e para Montagem. “O Grande Hotel Budapeste” ganhou nas categorias técnicas de Direção de Arte, Figurino, Maquiagem e Música Original. A perda do prêmio de melhor Roteiro Original para “Birdman…” é discutível, visto que a criatividade que Wes Anderson coloca em sua história é incontestável, mas o filme de Iñárritu também tem seus méritos na escrita.

Poucas comédias ganharam o Oscar de Melhor Filme na história da premiação. Apenas “Aconteceu naquela noite” (1934), “Se meu apartamento falasse” (1960), “As aventuras de Tom Jones” (1963), “Golpe de mestre” (1973) e “Noivo neurótico, noiva nervosa” (1977) foram filmes com grande componente de comédia e que venceram.

Fonte: Hugo Harris é jornalista e cineasta, professor do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).