* Por Cecília Meyer
Desde que a pandemia se instalou no mundo, cerca de 1,5 bilhão de estudantes ficaram fora da escola em mais de 160 países, segundo relatório do Banco Mundial. No Brasil, milhares de crianças estão sem acesso às escolas. Cerca de 85% da população brasileira depende da escola pública, e a maioria dessas escolas ainda não retomou suas atividades.
Além de estarem vivenciando uma pandemia, a grande maioria das crianças que frequentam as escolas públicas, não têm acesso à tecnologia, o que impossibilita as aulas remotas. Também estão sem acesso a bibliotecas, espaços de lazer e outros serviços públicos necessários para garantir seu desenvolvimento educacional.
Nesse momento atípico que estamos vivendo, incentivar a leitura, é uma das formas de tornar esse ano mais leve, prazeroso e produtivo. O dia 07 de janeiro, inclusive, é comemorado o dia do leitor, e a data criada em 1928 pelo poeta e jornalista Demócrito Roca é um bom momento para pensarmos sobre a importância da leitura.
Os livros são importantes até mesmo antes de começarmos a falar, onde as gravuras coloridas fazem o papel de “chamar a atenção”. O ato de manusear, ouvir as histórias, já neste momento, a criança está exposta à leitura. Na contação de histórias, o adulto e a criança estão juntos, dividindo um momento precioso, de intimidade e troca de emoções. Um momento particular.
Segundo a pesquisa Retratos da Leitura, o mais importante medidor do hábito de leitura do brasileiro, nos revela que atualmente a média de livros lidos pelos brasileiros é de 2,6 por ano. Em 2015 era de 4,95, como diz o estudo do Instituto Pró-Livro. Entre 2015, ano da última edição, e 2019, o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores. O estudo considera leitor aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses.
A boa notícia é que houve aumento de leitores na faixa de cinco a dez anos. E a principal motivação para ler livros entre jovens e adolescentes é o gosto pela leitura mesmo, diferente das demais faixas etárias, que buscam a leitura como algo importante para sua carreira ou religião, segundo o levantamento. Por outro lado, a pesquisa constatou que, todas as demais faixas etárias estão lendo menos livros ano a ano. No tempo livre, está havendo um aumento significativo de outras atividades de lazer como o uso da Internet (de 47% para 66%) e o uso do WhatsApp (de 43% para 66%).
Menos leitura impacta obviamente o desempenho dos estudantes. Em leitura, o Brasil está atrás de mais de 50 países e regiões econômicas, segundo o último PISA – Programa Internacional de Avaliação de estudantes, considerado o mais importante ranking mundial de educação. Os dados do Brasil apresentam estagnação nos últimos dez anos em leitura especificamente.
A deficiência em leitura tem efeito multiplicador. Quem não lê satisfatoriamente, não consegue, por exemplo, interpretar o enunciado de questões de qualquer outra disciplina.
A leitura pode contribuir não só no acesso ao conhecimento, como também na apropriação da língua, na construção de si mesmo, na extensão do horizonte de referência, no desenvolvimento de novas formas de sociabilidade. Por meio da leitura, cria-se um certo número de condições propícias para o exercício da cidadania.
Incentivos
Um dos fatores que influencia a leitura é o incentivo de outras pessoas. Um a cada três entrevistados, o equivalente a 34%, disse que alguém os estimulou a gostar de ler. Os professores aparecem em primeiro lugar e em segundo lugar está a mãe ou responsável do sexo feminino.
Além disso, o estudo mostra que a existência de espaços de leitura também é fundamental. Mais de 77% dos entrevistados disseram que não existe em seu bairro uma biblioteca comunitária.
Canteirotecas – bibliotecas no canteiro de obras
Uma das formas mais simples que as empresas de construção civil poderia adotar para incentivar a leitura, seria por meio da criação de bibliotecas comunitárias, abertas a comunidade onde estão inseridas, além claro, de reforçar a importância da leitura para seus colaboradores que, desta forma, conseguem replicar para seus familiares. O Instituto MPD, por exemplo, está criando nos canteiros de obras da MPD Engenharia, Canteirotecas, ou seja, pequenas bibliotecas que são abertas aos colaboradores e familiares como forma de incentivar a leitura. E futuramente, a Instituição também pretende abrir esses espaços para a comunidade.
Mario Vargas Llosa ao receber o prêmio Nobel de Literatura em 2010 disse que “um mundo sem literatura se transformaria num mundo sem desejos, sem ideais, sem desobediência, um mundo de autômatos privados daquilo que torna humano um ser humano: a capacidade de sair de si mesmo e de se transformar em outro, em outros, modelados pela argila dos nossos sonhos”.
Acredito piamente na relevância da leitura em todas as fases de nossa vida. E o seu estímulo deve começar desde o início. O incentivo do entorno da criança, sejam seus pais, professores, familiares é muito importante nesta fase inicial para a “criação” de leitores, para a criação do hábito da leitura, desenvolvendo desta forma o gosto de ler e adquirindo a percepção da sua importância no desenvolvimento da criatividade, imaginação, das emoções, dos sentimentos e da capacidade cognitiva.
Sabemos que durante a infância, diversas funções da cognição podem ser estimuladas por meio de incentivos diários.
Ler é viver e conviver! É voar com a imaginação sem sair do lugar!
*Cecília Meyer é educadora e presidente do Instituto MPD