* Dijanira Silva
Tenho experimentado que o “traço de mãe”, plantado por Deus no coração de cada mulher que Ele criou, vai além da capacidade de gerar filhos, biologicamente. A maternidade, biológica ou não, acolhida e vivida como deve ser, é um divisor de águas na vida de uma mulher.
Não tenho filhos, mas tenho compreendido que meu papel como mulher, inserida nas diversas realidades deste mundo, é amplo, e minha maternidade pode acontecer de várias maneiras, como explica São João Paulo II, em sua carta dedicada às mulheres: “O caráter maternal do coração da mulher centrado na pessoa humana como verdadeira essência da feminilidade, dá à mulher uma inclinação natural e abertura ao ser humano e a ver as pessoas com o coração.”
Uma missão tão nobre e abrangente que vai além dos parâmetros humanos, como continua a explicar João Paulo II: “A mulher pode descobrir e cultivar a maternidade independente do seu estado de vida ou da sua habilidade de conceber filhos, ainda que a gravidez tenha o efeito de identificar a sua consciência desse dom. Toda mulher é chamada a ser mãe, mas há mais de uma maneira de responder a esse chamado”.
Essa nova compreensão da maternidade tem me feito desbravar novos horizontes e, nesse contexto, conhecer o testemunho de “adoráveis mulheres” que passaram pelo mundo gerando vida, mesmo que nunca tenham se casado, e muito menos vivido uma gestação. Entre elas, chama-me a atenção o testemunho de Edith Stein, uma influente filósofa e teóloga alemã que, depois de uma intensa jornada, tornou-se santa e, através de seus escritos, continua inspirando tantas outras mulheres também na atualidade.
Madre Teresa também é um brilhante exemplo disso, e poderia citar ainda muitas outras mulheres que geram vida por onde passam, mesmo que seus ventres continuem velados. Acredito que o diferencial sempre está na forma como escolheram viver. Certamente nenhuma delas deu lugar ao egoísmo e, talvez, este seja o maior segredo para tanta vida gerada. Elas souberam doar-se, chegando muitas vezes ao extremo cansaço, mas sem deixar para trás o florescimento. E florescer é não se esquecer de viver!
É importante lembrar que por trás de uma mãe dedicada, existe uma mulher que também precisa de cultivo para continuar florindo no jardim que é sua família. Tomar consciência desta realidade é o primeiro passo na direção do autoconhecimento e, consequentemente, do autocuidado. Até porque, só podemos doar aquilo que possuímos. Neste sentido, se estivermos com a saúde física e emocional em dia, poderemos nos doar com muito mais amor e inteireza ao cuidarmos das pessoas que Deus nos confia, sem deixarmos de viver com liberdade e gratidão nossos dias.
Agindo assim, contribuímos com nossos dons, como uma coluna forte que sustenta a humanidade, sem deixarmos de buscar nossos próprios sonhos, sem nos perdermos pelo caminho. Isto é florescimento, uma experiência possível, porque Deus, o “grande jardineiro” e autor de toda beleza, está conosco, uma vez que escolheu gerar vida e colorir o universo através de nós.
Alicerçadas nessa verdade, eu e você podemos vencer o cansaço e florescer por onde formos, compartilhando nossa maternidade!
Dijanira Silva é missionária da Comunidade Canção Nova