Ser a COO de uma insurtech vai além de liderar o operacional da empresa, é também ser um pequeno avanço nos setores de tecnologia e seguros, áreas predominantemente masculinas.
*Por Natália Cunha
Sabemos que o espaço da mulher no mercado de trabalho é algo que vem sendo conquistado há décadas. No ramo tecnológico, por exemplo, os desafios sempre foram maiores, já que pelo menos 20 anos atrás, a liderança feminina neste setor era ainda mais rara – e até considerada sorte – como um trevo de quatro folhas. E agora, duas décadas depois, comemoramos o Dia Internacional da Mulher enfatizando que ainda seguimos rompendo paradigmas.
Neste lado da história, pequenas conquistas devem ser comemoradas, como quando ocupei a cadeira de COO (Chief Operating Officer) de uma empresa que oferece serviços e soluções inovadoras para o mercado de seguros, em 2018. Eu escolhi ser líder e trabalhei pra isso. Percorri uma extensa trajetória até entrar para as estatísticas daquele ano no qual apenas 20% dos cargos no mercado brasileiro de TI eram ocupados por mulheres, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Tecnologia e Estatísticas).
Acredito que as transformações deste cenário são reflexos de passos curtos, porém importantes, e alguns fatores contribuem para isso. Primeiro, o posicionamento feminino e a igualdade no desempenho no trabalho. Foi no mercado de seguros onde atuei em boa parte da minha carreira profissional. Quando comecei a grande maioria eram homens, mas enfrentei todas as adversidades e conquistei meu espaço: uma mulher que é respeitada pela sua expertise. Ser mulher no ramo da tecnologia não é diferente.
É preciso deixar bem claro que o meu foco é o processo e, por ser mulher, não preciso conhecer todo o universo de soluções e tecnologia. O automobilístico, por exemplo, foi só um dos temas com que trabalhei e que era de interesse e proximidade para a ala masculina. Mas temos que entender que garantir a qualidade de cada etapa no desenvolvimento dos produtos é o que vai trazer o resultado esperado e não a familiaridade com o assunto desde os primeiros passos.
Em segundo, está a competência de se sobressair aos desafios, como pensar em cada passo para garantir a segurança e bem-estar dos funcionários em meio a uma pandemia mundial. Coordenar o time de RH, responsável por estudar condições estruturais e liderar ações que permitiram a realocação de parte dos colaboradores para trabalhar em home office, apenas uma semana antes da quarentena, e garantir que o restante se adaptasse às mudanças de maneira gradual, é um exemplo disso.
Por fim, a conscientização das pautas de diversidade de gênero e inclusão na governança de grandes corporações. Esses programas são grandes propulsores para que os processos de seleção das empresas potencializam a presença feminina nas cadeiras de diretorias. Para mim, estar à frente da inovação, em todas as áreas, é implementar a cultura da diversidade e acreditar na capacidade dos colaboradores trabalhando e entregando importantes resultados à distância. E a Planetun leva isso muito a sério desde a sua criação. Hoje, 46% do quadro de colaboradores são mulheres, sendo 63% líderes exemplares.
Atualmente, alguns dados trazem sinais de mudanças em curso. A representatividade de mulheres em cargos seniores em tech na América Latina é de 16%, um número bem mais expressivo comparado ao resto do mundo, segundo pesquisa da consultoria KPMG em parceria com Harvey Nash. A mudança é bem-vinda, mas ainda há muito que avançar e entender que “lugar de mulher é onde ela quiser”.
*Natália Cunha é sócia e COO do Grupo Planetun, insurtech que desenvolve soluções disruptivas para o mercado de seguros.