Após vencer de virada o argentino Francisco Cerúndolo e avançar para as quartas de finais de Roland Garros, Novak Djokovic anunciou sua desistência da competição por ter constatado uma lesão no menisco do joelho direito. Por conta disso, o tenista perderá o posto de número 1 do mundo, agora ocupado por Jannik Sinner. Além disso, a presença do atleta nas Olimpíadas de Paris 2024 não é garantida.
De acordo com Evany Salvador, fisioterapeuta esportiva associada à Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e Atividade Física (Sonafe), que tem experiência no tratamento de tenistas desde 2017, a ruptura do menisco medial é como se fosse um “rasgo” dessa estrutura, que está na parte do meio do joelho.
“Essa lesão acontece durante uma entorse de joelho, que é basicamente uma torção, e pode ocorrer de forma aguda, com um movimento súbito, ou de maneira repetitiva, como durante mudanças rápidas de direção e durante movimentos de rotação do tênis”, afirmou Evany. Segundo a especialista, essa é uma lesão bem frequente no esporte.
Djokovic confessou em coletiva de imprensa ter sentido um leve desconforto antes da disputa de Roland Garros, mas afirmou não ser nada preocupante. Nas duas últimas partidas, o tricampeão do torneio passou quase 10 horas em quadra, chegando a fazer uma delas na madrugada. Para a fisioterapeuta, isso pode ter sido um fator agravante para a lesão: “O tempo de exposição em horas dos atletas a treinos e jogos é um fator de risco. Além disso, o horário do último jogo pode ter prejudicado a qualidade do seu sono e, consequentemente, afetado sua recuperação e preparação para o duelo seguinte.”
Evany também explica que, apesar de ser comum em jovens, a contusão de menisco fica mais propensa conforme a idade, pois a qualidade dos tecidos (músculos, meniscos, articulações) do corpo e da recuperação tecidual de alguém de 20 anos e de quase 40 anos é diferente.
“A lesão de menisco também pode ter uma característica degenerativa. Neste caso, Djokovic havia mencionado um desconforto no joelho há 3 ou 4 semanas e que estava em tratamento. Um machucado prévio é o principal fator de risco para as lesões esportivas. Esse fator pode ter agravado a lesão dessa vez”, opinou a profissional.
Durante a disputa com Cerúndolo, Djokovic sofreu com dores no joelho e precisou tomar analgésicos para seguir no jogo. O sérvio também disse que a chuva persistente de Paris tornou as quadras mais escorregadias do que o normal e que seu pedido para varrer o saibro com mais regularidade durante a partida foi rejeitado. No entanto, para Evany, não é possível afirmar que esse foi o fator principal da lesão, já que não houve a mesma reclamação por parte dos outros tenistas.
“Estamos falando das quadras de Roland Garros, provavelmente a melhor quadra de saibro do mundo. A equipe do torneio e do complexo Philippe-Chatrier deve ter uma rotina de manutenção dos locais entre jogos e dias de torneio bem estabelecida. Acredito que o atleta ter feito essa solicitação para melhoria nas quadras e não ter sido atendido influenciaria muito mais no aspecto mental do que no físico, mas ele também é conhecido por ter seu aspecto mental muito forte”, declara a fisioterapeuta.
Conforme a profissional, o tempo de recuperação deste tipo de lesão depende da porção do menisco em que ocorreu a ruptura, do tamanho da lesão, de quais sintomas o atleta apresenta e do tipo de tratamento escolhido: conservador, apenas com fisioterapia, ou cirúrgico. Segundo o jornal francês L’Equipe, Djokovic escolheu a segunda opção.
“Após a cirurgia, temos que garantir a integridade da articulação, reduzir edema, sensação de rigidez e dor, se for o caso, além de manter o bom funcionamento dos outros componentes articulares, como a amplitude de movimento, e recuperar progressivamente os movimentos de flexão e extensão de joelho, que serão prejudicados pela cirurgia, garantindo a ativação e fortalecimento muscular de todo membro inferior. A medida que o tratamento for evoluindo, a retomada das atividades esportivas deve ser feita de forma progressiva, com exposição gradual aos movimentos de corrida, saltos e mudança de direção, observando os sinais clínicos, respeitando o tempo de cicatrização da estrutura e as características físicas do atleta”, explica Evany.
“Hoje, a fisioterapia esportiva tem vários recursos para acelerar a reabilitação e o retorno ao esporte, então o tempo de recuperação e afastamento também deve considerar os objetivos e calendário do atleta”, conclui a fisioterapeuta.
Na opinião da especialista, o tenista será mais cauteloso com seu tratamento, o que o deixará fora da temporada de grama, incluindo o próximo Grand Slam, em Wimbledon. Contudo, ainda existe a possibilidade de Djokovic voltar a tempo da disputa das Olimpíadas de Paris, com abertura marcada para 26 de julho.