Saber lidar bem com essas fatalidades da vida não é fácil, mas faz parte da vida de todos nós. E para aqueles que pensam em maior ou menor nível nela, quanto antes desenvolver esta capacidade, mais cedo se libertará deste medo.
*Por Dr. Bayard Galvão
Psicólogo clínico especialista em Hipnoterapia e Psiconcologia
Quando falamos sobre o câncer, podemos pensar em quatro pontos no que se refere a diferentes contextos da doença: prevenção, diagnóstico precoce, tratamento (com as respectivas limitações e sofrimentos do indivíduo) e morte, seja no que se refere a ser a pessoa em questão ou quem a ama. Vamos falar um pouco sobre cada uma delas.
A prevenção é possível mediante diversas atitudes, desde a adoção de uma vida mais saudável até exames de marcadores genéticos tumorais. Estes mapeiam genes que indicam um aumento da probabilidade de o indivíduo ter determinado tipo de câncer, e sabendo que o possui, pode vir a tomar atitudes e (quase) zerar a probabilidade de tê-lo. Apesar de ainda ser um tanto inacessível, tende a ser uma alternativa cada vez mais comum, principalmente por pessoas que possuem históricos familiares genéticos.
Já o diagnóstico precoce de qualquer tipo de câncer aumenta a probabilidade de chance de remissão (evita-se usar a expressão “cura” muitas vezes por não poder ser afirmado que a doença não voltará no mesmo lugar ou em outro, anos depois).
No que se refere ao tratamento, o mesmo pode causar diferentes efeitos, mais ou menos nocivos ou benéficos em diferentes pessoas. Quando se fala de tratamento desta doença (que variará segundo o nível de agressividade da mesma, DNA e a respectiva localização), a ideia de base é sempre estatística, ou seja, determinado tratamento tem tantos % de remissão-cura-sobrevida-aumento de qualidade de vida. Não há garantias sobre o tratamento, da mesma maneira que um remédio para dor de cabeça pode funcionar bem para uma e não para outra pessoa.
O tratamento-contexto da doença tende a trazer um peso psicológico-emocional tanto para o paciente quanto para quem o ama e quem dele cuida, podendo também gerar outras dores em todos, seja pontualmente com momentos de tristeza, raiva e/ou ansiedade; ou até desenvolvendo doenças como depressão, quadros de ansiedade e traumas. Todos precisam ser cuidados organicamente e psicologicamente. Um paciente acamado chega a precisar de até cinco pessoas cuidando dele, seja referente à higiene, alimentação ou auxílio emocional.
Agora a morte. Neste caso, é uma possibilidade; e aprender a lidar com a própria e com a de quem se ama pode diminuir muito o sofrimento emocional das pessoas. Saber lidar bem com essas fatalidades da vida não é fácil, mas faz parte da vida de todos nós. E para aqueles que pensam em maior ou menor nível nela, quanto antes desenvolver esta capacidade, mais cedo se libertará deste medo. Claro, existem pessoas que buscarão inúmeros artifícios para não ter que lidar com isso, seja se distraindo do fato, tomando medicações que analgesiam a psique (como antidepressivos, calmantes e remédios para dormir), distraindo-se com trabalho, filmes, tarefas domésticas ou músicas. Cada um precisa entender os seus limites e se questionar acerca da validade de tentar superá-lo ou não.
Confesso que escrever sobre o presente tema, estando com meu próprio pai em seus últimos meses de vida por causa desta doença é estranho, até porque a minha pós-graduação foi no tratamento psicológico de pessoas com esta doença. Ou seja, estou tendo que adotar comigo e com minha família, em maior ou menor grau, medidas que tomos há anos com meus pacientes. Porém, como todos os grandes pensadores concluíram: é preciso saber-aprender a viver.
*Dr. Bayard Galvão é Psicólogo Clínico formado pela PUC-SP e Hipnoterapeuta. Especialista em Psicoterapia Breve, Hipnoterapia e Psiconcologia, Bayard é autor de cinco livros, criador do conceito de Hipnoterapia Educativa e Presidente do Instituto Milton H. Erickson de São Paulo. www.hipnoterapia.com.br