*Por Dra. Karina Belickas
É rápido e acessível encontrar informações para gestantes e mulheres que buscam ter um bebê: nas redes sociais, nos livros, na mídia e, é claro, na internet. A lista é extensa, mas nada substitui a experiência de engravidar. Esse momento, único e especial, pode levar a uma série de dúvidas e, em tempos de pandemia, é possível observar a crescente preocupação das mulheres com uma gestação de alto risco.
Uma dúvida frequente no consultório é sobre o que de fato é uma gravidez de alto risco. Esse é um termo muito amplo, que engloba qualquer aspecto que saia do curso de uma gravidez típica, em uma mulher que não apresente nenhum problema prévio de saúde. Geralmente indica a possibilidade de que o parto seja prematuro, a gestação interrompida ou ocorram complicações para a mãe e para o bebê.
As principais causas que levam a paciente a ter esse tipo de gestação são hipertensão e diabetes. Portanto, é preciso ressaltar que existem hábitos que diminuem e hábitos que aumentam o risco de desenvolver uma gestação assim. Para evitar, recomendo à gestante fazer o que todas as pessoas deveriam: ter uma alimentação saudável, realizar atividade física regularmente, evitar tabagismo e consumo de álcool e controlar o peso – no caso das futuras mamães, esse controle deve ser executado antes da gestação. Não é recomendada a perda de peso durante a gestação, mas sim o controle de ganho.
É importante frisar que durante toda a gestação podem ocorrer complicações que tornam uma gravidez normal em gestação de alto risco. Por isso, logo no início do pré-natal, e durante toda a gestação, deve-se proceder uma “avaliação de risco” das gestantes para identificar e mapear os riscos a que estão expostas.
O primeiro passo é ter uma consulta pré-concepcional. É neste momento que é possível identificar se a paciente possui algum fator de risco, histórico familiar ou alguma tendência. Caso ela esteja com sobrepeso ou obesa, já é viável orientar a perda de peso antes da gravidez. Se ela possuir algum hábito alimentar inadequado, é possível ajustar. Para prevenir a gravidez de alto risco é necessário ter essa avaliação antes da gestação para identificar alterações e, assim, orientar a paciente a engravidar em condições melhores.
Após a concepção, são realizados exames pré-natal para identificar possíveis tendências como riscos de diabetes, de hipertensão, além de alterações relacionadas ao bebê, como colo uterino curto, alteração no desenvolvimento, modificação no fornecimento de nutriente para o bebê, entre outros. E tudo isso só é viável de avaliar ao longo da gestação. Por isso, para prevenir uma gravidez de alto risco, é preciso ter um pré-natal adequado.
Hoje, com a crescente tendência da postergação da maternidade, temos um número expressivo de mulheres deixando a gravidez para depois. Mas até quando uma gravidez adiada pode se tornar de risco? A resposta é: acima dos 35. É nessa faixa etária que certos riscos se tornam mais prováveis e, portanto, mais dignos de discussão. Diversos estudos já revelaram que as mulheres que engravidam após 35 enfrentam grandes riscos de complicações, tanto relativas ao parto, quanto ao bebê. Mas isso não significa que todas elas terão problemas na gestação.
Algumas pacientes podem ter dificuldades de concepção também por conta ovulação. Contudo, a boa gestação vai depender muito do estilo de vida e, consequentemente, saúde da paciente. Há, inclusive, casos de mães “idosas” mais saudáveis do que gestantes adolescentes, por exemplo. Antes de qualquer coisa, ressalto novamente a importância da consulta para um check-up pré-concepção. Um obstetra poderá ajudar a encontrar vitaminas pré-natais e elaborar uma dieta específica para cada caso, além de alertar sobre quaisquer fatores ambientais que devem ser evitados nos próximos nove meses.
A gestação é um momento de grandes mudanças para a mulher, tanto físicas quanto internas. A informação é essencial e nos ajuda a entender o que está acontecendo, por isso acredito muito na troca com minhas pacientes. A tranquilidade e o acompanhamento são fundamentais para que a mulher possa realizar o sonho de ser mãe de um bebê saudável. Não aceite que alguém nunca te diga o contrário. Vejo isso diariamente. Muitas batalhas são vencidas pelo amor.
*Karina Belickas é ginecologista, obstetra e mastologista, formada pela Faculdade de Medicina da USP. Especializada no atendimento a mulheres jovens e em gravidez de alto risco, a médica atua no Hospital Santa Joana, no setor de gestação de alto risco intra-hospitalar, de gestantes e puérperas internadas por alguma complicação durante a gravidez, além do ambulatório de pré-natal de alto risco. Coordena também o ambulatório de ginecologia geral do Hospital Santa Virgínia e atende em consultório.
Instagram: @drakarinabelickas