Gisele Medeiros, autora do livro Ser Humana e especialista em Psicologia Positiva e Ciência do Bem-Estar, aponta como lidar com dúvidas sobre propósito e felicidade
Final de ano vem aí. É hora de colocar tudo na balança, avaliar se as metas foram cumpridas e repensar a vida – ainda mais em um ano desafiador como 2020, em que lidamos com pandemia, perdas e outras complexidades. Com isso, questionamentos sobre propósito, felicidade e sentido da vida ganham holofotes. Gisele Medeiros, autora e especialista em Psicologia Positiva e Ciência do Bem Estar pela PUC, destaca que a maturidade tende a trazer mais clareza acerca das expectativas sobre a vida, a carreira e os relacionamentos, porém, mesmo assim, é necessário um plano de ação para uma boa tomada de decisões.
“Existem períodos da vida em que temos crises de identidade e ações externas não favorecem mais soluções. É como se precisássemos fazer uma ‘faxina na alma’. Temos que descobrir nosso papel no mundo, dar uma reviravolta e ter coragem para recomeçar. E é normal surgirem muitas dúvidas de por onde começar”, comenta Gisele, autora do livro a Ser Humana, que está na segunda edição e pode ser adquirido em formato impresso no site https://www.thebravenewlife.com/ser-humana ou em versão digital no Kindle ou loja da Amazon.
Pensando nisso, Gisele organizou 7 sugestões para quem está em meio a estes pensamentos, compartilhando um pouco de sua experiência, ao se mudar há dois anos com dois filhos pequenos e o marido para Holanda. Ela reinventou sua relação entre a vida e o tempo, encarou um lifestyle minimalista e mudou de profissão.
Veja a seguir as 7 dicas da especialista para repensar a vida:
1. Dê uma trégua para o propósito
Estamos vivendo uma epidemia de propósito. Nossa meta passou a ser desvendar a charada, encontrá-lo, e junto dele nossa melhor versão. Alguns equívocos comuns contudo nos tiram a paz quando falamos sobre este tema, entre eles, que o propósito é uma coisa que precisa ser encontrado. Porém, ele é algo que construímos ao longo do caminho, portanto, não é um momento “Eureca”.
Ele também não é uma coisa única ou necessariamente relacionado ao trabalho. Somos seres compostos de várias partes, então nada mais natural do que termos um propósito, por exemplo, relacionado à saúde, outro para a criação dos filhos, um propósito relacionado ao trabalho, e assim por diante.
Por fim, ele não é para sempre. Nossos objetivos mudam ao longo da vida, na medida em que mudam os desafios e a maturidade. Nossos propósitos se transformam conosco e a parte boa é que podemos descobri-los em coisas muito simples, ainda que extremamente importantes para cada um nós.
2. Faça Pequenos experimentos
Não tente mudar completamente sua vida com um plano numa tarde de domingo ou tome decisões em momentos de crise. Tente, ao invés disso, comprometer-se com um único experimento. As mudanças mais difíceis não são normalmente desafios técnicos, mas adaptativos.
Pense em algo que possa ser transformado em sua rotina e que tenha significado somente para você e então, veja como se sente em relação àquela atividade. Tente experimentar algo em pequenas doses, como um estudioso numa pesquisa de campo. Não fique apenas na imaginação, experimente.
3. Conecte os pontos
Faça uma linha do tempo com as coisas que você gostava de fazer quando era criança, com os cursos que fez, o que aprendeu e o desenho pouco usual que sua história traçou pelo caminho.
Esta é a sua originalidade. Uma mudança radical de vida não significa necessariamente um rompimento brusco, muitas vezes pequenas adaptações funcionam como pecinhas de dominó empilhadas e empurrando perfeitamente umas às outras.
4. Saia do armário
As capacidades são necessidades. Elas clamam para serem usadas. Como pequenas entidades dentro da gente, que precisam ser utilizadas, caso contrário, definham. Precisamos colocar pra fora o que fomos programados (ou agraciados) para fazer.
Se você parar por 15 minutos para pensar nos elogios que normalmente recebe dos amigos certamente conseguirá desenhar uma lista com 4 ou 5 coisas em que se destaca. Aquele tipo de coisa com que as pessoas normalmente te pedem ajuda. Aquilo que parece difícil para alguém mas que você faz com naturalidade. Aí pode estar o começo de uma linda jornada de descoberta e autoconhecimento, mas acima de tudo, um presente seu para o mundo.
5. Permita-se dar um tempo
Vivemos numa era de startups, onde o ritmo imposto é cada vez mais alucinante e termos como “exponencial” e “fail fast” entraram em nosso vocabulário para tratar de temas que definitivamente não condizem com velocidade. Transformação demanda tempo, embora nossa percepção de tempo seja linear, horizontal. É como se andássemos numa linha reta, sem olhar para os lados, em direção ao nosso futuro. Porém, o tempo não precisa ser previsto ou antecipado, precisa ser sentido. É um processo, tem seu próprio ritmo. Precisamos de um estado de espírito livre e disponível para percebê-lo.
Ou seja, para todos os assuntos em que a mente reverbera a pergunta do “quando” – vou achar aquela pessoa, vou conseguir aquele emprego, vou me mudar desse lugar – vem a resposta como uma onda. Acredite. Não tente controlar. Vai acontecer e na hora certa.
6. Apenas comece
Em quase todas as entrevistas que faço de mulheres em carreiras criativas, em diversas partes do mundo, percebo um padrão comum: elas não mudaram suas carreiras ou sua vida a partir de um plano elaborado e condições perfeitamente adequadas. Elas simplesmente começaram. Havia um sonho ou uma habilidade, que em 99% das iniciativas começou pequena. Numa cozinha, numa escrivaninha ou num computador.
Com isso não quero dizer que não é necessário se preparar técnica, financeiramente e até mesmo emocionalmente para as mudanças, mas que é preciso dar um primeiro passo. É preciso se expor e correr algum risco. É preciso elaborar algo e ofertar para que alguém possa dar um feedback.
7. Seja gentil e abasteça-se do que é bom
Ninguém gosta de falhas e decepções, mas se há uma certeza é a de que em algum momento vamos errar, e muito. Por isso uma dose extra de resiliência e gentileza será necessário para não jogar a toalha depois do primeiro tombo. Um pouco de stress e senso de inadequação é até positivo para nos impulsionar, mas é preciso saber dosar o descontamento.
Na hora em que a “coisa apertar”, saia para uma corrida, escreva, ligue para um amigo ou quem sabe apenas descanse. Dê pequenos presentes para o seu “eu” de hoje e para aquele que você deseja encontrar lá na frente. Seja gentil com você mesmo enquanto estiver aprendendo sua nova versão.