
*Por Welliton Girotto
No último dia 20 de maio, a Câmara dos Deputados italiana aprovou a nova lei que limita o reconhecimento da cidadania italiana por descendência restringindo o acesso a netos e excluindo bisnetos, tataranetos e gerações seguintes da possibilidade de serem reconhecidos automaticamente como cidadãos de origem.
A medida, criticada por diversos parlamentares do Partido Democrático, teria sido impulsionada por pressão direta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O motivo? Evitar que ítalo americanos usassem a cidadania italiana como ferramenta jurídica para escapar de políticas migratórias duras e eventuais deportações em massa. Mas o que se observa é que essa troca não rendeu nenhuma contrapartida concreta à Itália: não houve benefício fiscal, acordo bilateral ou estímulo direto à economia italiana em troca da ruptura com milhões de descendentes legítimos.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, mais de 17 milhões de ítalo americanos assistem com perplexidade ao enfraquecimento de seu vínculo jurídico com a Itália. Já no Brasil, onde mais de 30 milhões de pessoas possuem ascendência italiana direta, apenas 1% conseguiu efetivar sua cidadania justamente por conta da complexidade do processo, que por si só já é um filtro natural e rigoroso.
Ainda assim, a narrativa oficial tenta transformar esses números em ameaça: uma “invasão” ou “superlotação” do reconhecimento da cidadania, quando na verdade estamos falando de famílias que mantiveram vivos seus sobrenomes, tradições, idioma, cultura e valores muitas vezes com mais zelo do que o próprio território de origem.
Pós pandemia, o número de pedidos de reconhecimento ou busca por cidadania por parte de norte-americanos cresceu mais de 400%. Esses pedidos não nasceram da conveniência. Eles nasceram da busca por estabilidade, saúde pública de qualidade, segurança social e um novo modelo de vida. Ou seja, a lei aprovada tenta barrar um movimento que já está em curso e que nasce de uma crise social e política interna aos EUA, não da comunidade italiana.

A Itália, ao tentar impedir esse êxodo, acabou por desferir um golpe simbólico na própria diáspora. E, nesse processo, traiu tanto os ítalo americanos quanto os ítalo-brasileiros, que compartilham mais do que sangue italiano: compartilham o sentimento de pertencimento.
A cidadania italiana não é um privilégio concedido. Ela é um direito de origem, respaldado pela Constituição da República Italiana. O artigo 3º deixa claro que todos os cidadãos são iguais perante a lei, com dignidade social, sem distinção de raça, língua ou condição social. E esse direito não pode ser revogado por conveniência política momentânea ou troca diplomática obscura.
Welliton Girotto é fundador da Master Cidadania com atuação ininterrupta desde 2002 na defesa da cidadania italiana por direito de sangue



