Materiais do IAC são altamente produtivos, ricos em vitamina A e podem ter valor agregado. Confira vídeo sobre o estudo
Tipicamente brasileira, a mandioca faz parte da cultura alimentar do Brasil, tendo espaço na alimentação do dia a dia e até mesmo na alta gastronomia. O que pouca gente sabe é que por trás desse produto, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o alimento do século XXI, há muita ciência e tecnologia. Esse alimento consegue atravessar décadas por carregar forte bagagem científica, em que o Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é o protagonista.
Desenvolvida pelo Instituto Agronômico, por exemplo, a mandioca IAC 576-70 é conhecida pelos agricultores de todo o Brasil como Amarelinha, por ter polpa de coloração creme-amarelada quando crua e amarelada quando cozida. O material produz cerca de 30 toneladas de raízes por hectare, 28% superior às variedades de mesa de polpa branca, aproximadamente, e possui 10 vezes mais betacaroteno, precursor da vitamina A.
“A Amarelinha tem 250 UI (Unidades Internacionais) por 100g de polpa de vitamina A, aproximadamente, sendo que as variedades de polpa branca possuem 20 UI por 100g. O IAC continua suas pesquisas para desenvolver materiais mais produtivos e enriquecidos com nutrientes. Esperamos lançar em breve novas variedades que podem chegar a mais de 1.000 UI por 100g de polpa de vitamina A, nutriente importante para a visão e o sistema imunológico”, explica José Carlos Feltran, pesquisador do Instituto, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Para o consumidor, o material do IAC tem mais duas características importantes: cozinha em cerca de 30 minutos e tem baixo teor de ácido cianídrico (HCN), veneno que pode ser encontrado em raízes de mandioca, principalmente naquelas voltadas à produção de farinhas e fécula, na indústria.
Além da vantagem produtiva e nutricional, Feltran explica que a Amarelinha transformou o mercado da mandioca de mesa para um sistema de produção de agronegócios. “Antes do seu lançamento, na década de 1980, as mandiocas de mesa eram vendidas em caixas para os centros de distribuição, como a Ceasa e Ceagesp. Hoje, o produtor consegue descascar essa mandioca e resfriar ou mesmo cozinhar e congelar, colocando no mercado um produto de alto valor agregado”, afirma.
Essa transformação é verificada em números. Segundo o pesquisador do IAC, no sistema tradicional de venda de mandioca de mesa, o produtor ganha cerca de R$ 0,80 centavos por quilo, em fevereiro de 2021, valor considerado alto. Com o trabalho de descascamento e inserção do produto na cadeia de frio, o mandiocultor pode ganhar mais de R$ 2,50, por quilo.
Novos mercados
Feltran afirma que novos mercados podem surgir para a mandioca, como o de farinhas especiais, produzidas com as variedades de mesa enriquecidas com nutrientes, como a Amarelinha e demais materiais em estudo pelo IAC. “Estamos fazendo testes com variedades que, além do alto índice de vitamina A, têm quatro vezes mais cálcio do que as mandiocas de hoje comercializadas. O mercado de farinha especiais é uma possibilidade, pois teríamos uma farinha enriquecida com esses nutrientes”, afirma.
Para isso, porém, não basta apenas usar os materiais de mesa do IAC para a produção convencional nas farinheiras, sendo necessários ajustes na produção. De acordo com o pesquisador, ocorre perda de nutrientes no momento da produção das farinhas e, para evitá-la ou reduzi-la, é recomendado o uso de embalagens especiais e conservação do produto em ambiente mais fresco.
O pesquisador do Instituto da Secretaria também cita que a parte aérea da planta da mandioca pode ser utilizada para alimentar animais de produção como aves e ruminantes, após processo de ensilagem ou fenação. “Como são materiais enriquecidos, eles podem trazer benefícios enormes para a produção de animais, podendo melhorar, inclusive, as características reprodutivas”, afirma.
Pesquisa integrada para gerar renda ao produtor e alimentos melhores para os consumidores
O desenvolvimento das pesquisas com mandioca no IAC se iniciou na década de 1930. De acordo com Feltran, ao longo desses anos, o programa de melhoramento genético do Instituto contou com diversos pesquisadores e técnicos, que trabalharam e ainda trabalham de forma conjunta para desenvolver novos materiais e transferir essas tecnologias e conhecimentos para os agricultores.
“Hoje, testamos os novos materiais na fazenda do IAC, em Campinas, mas também em diversas unidades da APTA Regional e produtores rurais. Contamos ainda com técnicos da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), também da Secretaria, para levar conhecimento aos agricultores paulistas. É um trabalho feito em conjunto, que contou com várias gerações de pesquisadores e técnicos agrícolas”, conta.
Produção paulista de mandioca
Atualmente, o Brasil produz 22 milhões de toneladas anuais de mandioca de mesa e para a indústria, cultivadas em 1,8 milhão de hectares, aproximadamente. Toda essa produção é utilizada para consumo de mesa e para a produção de farinha, amido e polvilho. O estado do Pará é o maior produtor nacional.
São Paulo produziu 1.363,7 mil toneladas de mandioca para indústria, cultivadas em 63,2 mil hectares, principalmente nas regiões de Assis, Presidente Venceslau e Marília, que juntos somam mais de 50% da produção paulista, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA-APTA), na safra 2019/2020.
As lavouras paulistas produziram 247,1 mil toneladas de mandioca de mesa, na safra 2019/2020, em área de 19,8 mil hectares, principalmente na região de Mogi Mirim, que contribuiu com mais de 30% da safra estadual. “A grande totalidade desta produção é centrada nas cultivares de mandioca desenvolvidas pelo IAC, como exemplo podemos citar além da IAC 576-70 (mesa), as cultivares IAC 13, IAC 14 e IAC 90 destinadas ao uso industrial. É o trabalho do Instituto gerando renda no campo e bem estar ao cidadão paulista”, afirma Feltran.