Orientação médica aliada ao suporte nutricional e psicológico são fundamentais na recuperação rápida e completa do paciente. Beneti explica que os exercícios aeróbios ajudam na recuperação
Quando o assunto é Covid-19, a população ainda está pisando em solo desconhecido que, aos poucos, é desbravado. Inclusive, a forma como cada organismo reage ao vírus é objeto de muitos estudos. Para se ter uma ideia, uma pesquisa da Universidade de Sheffield em colaboração com a de Oxford indica que o novo Coronavírus pode impactar a função pulmonar até mesmo após a recuperação dos pacientes. “Por isso, é fundamental um acompanhamento multiprofissional para o retorno à prática de exercícios”, explica o Dr. Ricardo Beneti, pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Unoeste.
Mediante o estudo, os pesquisadores das universidades de Oxford e Sheffield acreditam que o novo Coronavírus pode provocar sequelas pulmonares por mais de seis meses. “O pulmão é um órgão elástico e complacente e essas características são fundamentais para que haja o adequado preenchimento dos espaços aéreos no ato respiratório. Em processos inflamatórios ou infecciosos pulmonares ocorre um processo de reparo, no qual o tecido elástico tende a ser substituído por um tecido fibroso. Estas ditas sequelas ocorrem em variados graus em diversas patologias pulmonares, e infelizmente, não é diferente na Covid-19”, explica Beneti.
Segundo o professor, as sequelas fibróticas podem permanecer por longos períodos e, após bem estabelecidas, geralmente após três meses do processo infeccioso agudo são irreversíveis. “Caso essa lesão ou sequela pulmonar tenha grande extensão de acometimento ocorrerá prejuízo à função do órgão e à respiração. Para casos de Covid-19 leves, o recomendado é apenas observar a evolução clínica, desde que a pessoa esteja bem e se recuperando. Apesar desse processo ser lento e durar algumas semanas não é necessária a realização de exames específicos.
Já para casos com acometimento pulmonar moderado a grave, o pneumologista sugere acompanhamento médico posterior, inclusive com a realização de exames de imagem se for preciso. “Nestes casos a orientação para o retorno à atividade física deve ser gradual, lenta e individualizada, de acordo com o médico assistente”.
Existe ainda um contraponto de que o exercício físico pode causar risco de uma lesão orgânica sistêmica em pacientes que se recuperaram da Covid-19. “Quando a prática esportiva ocorre de maneira desproporcionada ou não planejada, pode ainda ter chances de eventual episódio de insuficiência respiratória aguda, que é a falta de ar intensa acompanhada de queda da oxigenação corpórea”.
Beneti comenta que é importante lembrar que a Covid-19 é, na verdade, uma síndrome inflamatória sistêmica, que cursa não somente com lesões pulmonares, mas também com acometimento de outros órgãos e sistemas, como o cardiovascular, neurológico, digestório e locomotor. “Há, para além da lesão pulmonar, risco de acometimento e sequelas cardiológicas, tromboses pulmonares e cerebrais e um processo catabólico que pode ser extremamente significativo”.
Nesse sentido, ele reforça que em casos moderados a graves, o paciente tenha uma abordagem multiprofissional no retorno à atividade física. “Os exercícios aeróbicos serão fundamentais nesta fase de recuperação e deverão ser escalonados de maneira individual com progressão lenta. No entanto, deve ser dada ênfase à recuperação de massa musculoesquelética com trabalho específico (novamente individualizado) e suporte nutricional (também fundamental)”.
Sequelas x Condicionamento Físico
Dr. Beneti diz que, infelizmente, as sequelas de infecções respiratórias são capazes de prejudicar o desempenho dos praticantes de exercícios físicos de forma permanente. “As sequelas pulmonares podem ser extensas, graves e irreversíveis. No entanto, há uma ótima capacidade adaptativa do tecido pulmonar, e o trabalho adequado pós-Covid-19 pode minimizar significativamente este impacto funcional”.
Para quem já é praticante de esportes, o pneumologista pontua que o bom condicionamento físico é fundamental para que o indivíduo tenha resistência ao processo infeccioso agudo, caso seja acometido e contraia a doença. No entanto, Dr. Beneti salienta que existem situações enzimáticas genéticas que expõem as pessoas a um maior risco na interação entre o hospedeiro infectado e o vírus.
“Boa parte do dano sistêmico causado pelo novo Coronavírus advém desta interação e dos processos do próprio organismo tentando reagir à infecção viral. Desta maneira, apesar do bom condicionamento físico ser importante à saúde como um todo, reduzindo o risco de doenças de uma maneira geral e de fornecer uma maior capacidade de resposta em caso de infecção, ele não guarda exatamente correlação com a sequela posterior da infecção grave, caso ela ocorra”, conclui o professor.