Maioria de moradores da favela e comunidades de povos tradicionais no Brasil se sentem injustamente representados pela mídia, aponta pesquisa.
A premiada agência Sherlock Communications publicou o Relatório de Consumo de Mídia LATAM 2021, que entrevistou mais de 3.000 pessoas em seis países latino-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e México) para conhecer suas preferências e analisar as mudanças ocorridas no consumo de notícias e na confiança nos canais e nas pessoas. Este ano, o relatório também inclui uma análise especial sobre inclusão, com foco especial nos grupos da sociedade que são marginalizados pela mídia tradicional.
Segundo o estudo, a maioria das pessoas (86%) que vivem na favela do Morro da Coroa, em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, acredita ser retratada de forma injusta pela mídia tradicional. Apesar de 43% da amostra não ter computador em casa, 52% dos moradores citaram a internet como sua principal fonte de notícia. 76% assistem ao noticiário na TV todos os dias.
Diretora do Favela em Pauta, portal de notícias independente, e residente do Complexo de Alemão, no Rio de Janeiro, Daiene Mendes afirmou no relatório que a mídia tradicional no Brasil atende a um público de elite. “Temos um grande problema no Brasil com a desigualdade”, disse ela. “O que vemos na mídia é a criação de notícias que atendem a uma parte da sociedade, ignorando completamente grandes grupos. São os ricos conversando com os ricos. Uma vasta parcela da população não está representada na mídia nacional”.
Entre os povos tradicionais brasileiros, o relatório entrevistou pessoas próximas a cidade de Santarém, no Pará, que pensam parecido: 58% disseram que consideravam a representação da mídia “injusta”. 39% normalmente acessam as notícias online, enquanto 26% obtêm as notícias nas redes sociais. 19% citaram a TV como sua principal fonte de notícias, com quase 10% obtendo as notícias do WhatsApp. Para Walter Oliveira, comunicador indígena que vive em Santarém, apesar de haver muita cobertura na mídia sobre as comunidades indígenas, “é raro que nós – as pessoas que realmente vivemos aqui – possamos falar por nós mesmos”.
“Podemos ver pelos dados que as pessoas na América Latina estão se afastando das fontes tradicionais de mídia, em direção às plataformas da comunidade. Muitos jornais e emissoras estão perdendo uma oportunidade. Ao excluir certos grupos ou não incluí-los deliberadamente, basicamente eles estão dando as costas a um grande número de consumidores”, disse Patrick O’Neill, sócio-gerente da Sherlock Communications.
Fake news e confiança
Os políticos são a fonte de informação menos confiável em toda a América Latina: 70% não confiam ou confiam muito pouco em informações vindas dessas fontes. No Brasil, três a cada dez pessoas dizem que não confiam nos políticos. Na verdade, apenas 3% disseram que “confiam totalmente” nas autoridades eleitas. Em contraste, um em cada dois brasileiros disse que “confia” nos jornalistas, enquanto mais de 30% disseram confiar totalmente nos repórteres como fonte de notícias.
93% dos latino-americanos afirmam que, na dúvida, verificam as informações e notícias que veem nas redes sociais antes de compartilhá-las. Enquanto isso, 96% dos brasileiros têm o hábito de verificar os fatos; 72% disseram que sempre checam as informações nas redes sociais quando não têm certeza, enquanto 24% o fazem às vezes.
Consumo de Mídia e Redes Sociais
Os brasileiros são os que mais acessam as notícias pela televisão, com 78% assistindo a pelo menos um noticiário por dia. Também são o grupo com maior probabilidade de ouvir notícias diárias no rádio na América Latina, 46% disseram sintonizar diariamente.
Apesar da redução da participação de mercado, o Facebook foi visto como a plataforma de mídia social mais confiável para notícias, com uma média regional de 27%, selecionando-o como sua fonte de notícias mais confiável. No Brasil, citaram o YouTube como a fonte de notícias mais confiável, com 29% dos entrevistados colocando-o em primeiro lugar. 17% dos brasileiros deram seu voto número um ao Instagram; 16% para o LinkedIn; 15% para o Facebook; 12% para o Twitter e 10% para o WhatsApp.
O estudo “Explorando a evolução da mídia tradicional e o alcance entre as comunidades excluídas na América Latina” está disponível para download neste link.
Informação adicional
O enfoque nos grupos excluídos na América Latina incluiu pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, comunidades rurais, mulheres, pessoas com deficiência, grupos indígenas, idosos e grupos LGBTQIA+, além de entrevistas com ativistas em vários países latino-americanos.