Lentes de contato e constante fricção dos olhos são fatores de risco
Há quem pense que coçar os olhos é um hábito inofensivo. Mas não é! Esse costume aumenta o risco de desenvolver o ceratocone, doença que leva ao afinamento da córnea. Essa estrutura que se localiza na parte anterior do olho, perde seu formato mais arredondado e ganha um formato de cone. A palavra ceratocone vem do grego “kerato” (córnea) e “konus” (cone).
Segundo a oftalmopediatra Dra. Marcela Barreira, juntamente com o cristalino, a córnea é responsável por direcionar a luz para a pupila e para retina, como se fosse uma lente. Esse formato de cone, resultante da doença, leva ao desenvolvimento de um astigmatismo irregular. Com isso, há uma perda muito importante da acuidade visual”.
Conforme a doença progride, se não houver tratamento, pode haver a necessidade de um transplante de córnea.
O ceratocone atinge cerca de 50 a 230 pessoas por 100 mil habitantes. Apenas 10% dos casos têm um componente hereditário. Outros fatores que aumentam o risco são o uso prolongado de lentes de contato, constante fricção dos olhos, síndrome de Down e algumas doenças sistêmicas.
Porque não se deve coçar os olhos
A constante fricção dos olhos causa traumas repetitivos, que resultam em alterações expressivas na córnea. “Além disso, coçar os pode levar à liberação de substâncias inflamatórias. Essas, por sua vez, alteram o colágeno da córnea, levando à deformação da estrutura”, comenta Dra. Marcela.
Raro, porém com graves consequências
Embora relativamente raro, o ceratocone é uma doença de longa duração, com necessidade de acompanhamento oftalmológico constante.
“O grande problema do ceratocone é que, nos estágios precoces, os sintomas são os mesmos de qualquer outro erro refrativo, como miopia, astigmatismo e hipermetropia. O que pode ser interpretado como um sinal de alerta é a necessidade frequente de correção do grau ou ainda a diminuição da tolerância ao uso de lentes de contato”, explica Dra. Marcela.
Crianças atópicas devem ser monitoradas
Embora o ceratocone costuma aparecer em adolescentes e jovens até os 20 anos, as crianças alérgicas merecem atenção.
“Sem dúvidas, as crianças atópicas, ou seja, que possuem alergia, merecem atenção redobrada. Asma, rinite e alergia ocular são comuns em quem tem ceratocone. Portanto, esse é um grupo de risco para desenvolver a condição. As crianças com síndrome de Down também são consideradas de risco”, relata Dra. Marcela.
Astigmatismo irregular
Um forte indício da presença do ceratocone é o astigmatismo irregular, causado por um formato muito desigual da córnea. Nesses casos, é importante que se faça uma topografia de córnea.
Em um estágio mais avançado, quando é possível identificar clinicamente o ceratocone, há alguns sinais e sintomas, como:
Diminuição importante da acuidade visual, tanto para perto quanto para longe, associado à miopia e/ou astigmatismo
Sensibilidade à luz (fotofobia)
Cansaço visual
Coceira
Irritação
Desconforto ocular
Alguns pacientes podem ainda ter visão dupla (diplopia), poliopia (percepção de várias imagens de um mesmo objeto), além de feixes de luz e distorção dos reflexos em volta da luz.
Dos óculos à cirurgia
A progressão do ceratocone é relativamente lenta, cerca de seis anos. A deformação mais acentuada da córnea não tem cura. Nesses casos, a única solução é o transplante de córnea.
Mas, existem algumas técnicas que podem ser aplicadas para impedir a progressão da doença, bem como para estabilizar a curvatura da córnea. Um desses tratamentos é cross-linking.
“Trata-se de um método pouco invasivo e seguro. A riboflavina, um dos tipos de vitamina B, é aplicada nos olhos. Depois, é usado um feixe de luz UV. Essa luz ultravioleta promove a ligação da vitamina com o colágeno da córnea, fortalecendo-a. Com isso, a córnea consegue manter o formato em que está no momento do procedimento”, diz Dra. Marcela.
Em casos mais agressivos ou que não foram tratados precocemente, pode ser necessário realizar um transplante de córnea.
Prevenir é sempre melhor
“Coçar os olhos é um hábito ruim em qualquer fase da vida. Porém, como o ceratocone começa a se desenvolver na infância ou pré-adolescência, é importante que os pais fiquem mais atentos durante essas fases”, recomenda a especialista.
As crianças alérgicas também devem ser monitoradas de perto, principalmente quando desenvolvem quadros frequentes de alergia ocular.
A prevenção do ceratocone e de qualquer outra doença ocular deve começar na infância. Por isso, a recomendação é procurar um oftalmopediatra ainda no primeiro ano de vida, para uma consulta oftalmológica de rotina.