* Larissa Brioso
O ano de 2020 trouxe inúmeros prejuízos financeiros para grande parte da população e, em 2021, a crise sanitária continuou também refletindo prejuízos no bolso dos brasileiros. De acordo com o Serasa, hoje no Brasil, são mais de 62 milhões de inadimplentes, sendo que metade desses estão com a renda inteira comprometida, e esse “superendividamento” acaba fazendo com que as pessoas fiquem com o “nome sujo”. Em paralelo, a pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, divulgada em abril revelou outro cenário alarmante, mostrando que 14,4 milhões de brasileiros estão desempregados. Ou seja, o cenário econômico e a realidade financeira complicada provou que cuidar das finanças pessoais é essencial para contornar situações imprevisíveis em relação ao dinheiro.
No Brasil, conversar sobre dinheiro e ensinar educação financeira para as crianças não é algo comum. O que acontece é que os adultos têm que aprender na prática e, na maioria das vezes, da pior forma possível. Essa escassez de ensinamentos sobre educação financeira ainda é muito presente e somado a isso está o baixo salário que grande parte da população brasileira recebe. Em comparação com outros países mais desenvolvidos essa diferença salarial é enorme.
Se todos os brasileiros que perderam o emprego ou que tiveram a redução da renda durante acenário econômico tivessem uma reserva de emergência, provavelmente, o número de pessoas passando fome não seria tão grande quanto o que estamos enfrentando. Porém essa realidade ainda é muito distante da maioria da população.
Quando falamos de comportamentos e decisões financeiras, estamos ao mesmo tempo falando de ações baseadas não só na parte racional, mas também no emocional de cada um. E todas essas questões que os brasileiros enfrentam levam o nosso inconsciente a acreditar em crenças limitantes. Como por exemplo, de que nunca será possível ter sua casa própria ou quitar as dívidas, e em casos mais extremos, até a ideia de que o dinheiro não nos traz felicidade. Esses pensamentos, na grande maioria das vezes, geram aversão a querer saber mais sobre dinheiro e sobre como lidar da melhor maneira com as finanças pessoais.
Nós já sabemos que mesmo após a contenção da doença que enfrentamos nesta pandemia, ainda vão restar muitas sequelas financeiras e a recuperação da economia no Brasil pode ser muito lenta.
Para reverter essa situação, enxergo que a melhor solução atualmente para os brasileiros é investir em educação financeira de base, para ser ensinada ainda na infância. Vimos alguns avanços em relação a esse tema quando o estudo passou a integrar o currículo escolar como matéria transversal, porém a realidade da educação financeira estar nas casas da população ainda é muito distante. Principalmente neste momento onde grande parte das crianças não estão tendo acesso às aulas, nem em modelo presencial, nem à distância.
Para quem não sabe por onde começar, mas tem interesse por mudar essa realidade e se empoderar sobre suas finanças, aconselho buscar por canais e influenciadores que ensinam gratuitamente sobre o tema. Existem milhares pessoas com esses perfis na internet e até alguns que trabalham conteúdos específicos para nichos, como os voltados para a população de baixa renda, para mulheres, para quem já conseguiu certa estabilidade e quer começar a investir.
Eu acredito que ensinar sobre educação financeira seja um dever também do Estado e podemos comparar com outros países que aplicam essa disciplina o resultado em como as pessoas lidam melhor com as finanças. Porém, enquanto essa realidade é distante, podemos fazer a nossa parte.
*Larissa Brioso, Educadora Financeira da Mobills