Eleições apertadas são a representação de um Brasil dividido

Hoje a coluna traz um artigo publicado pela agência de noticias francesa AFP by jornalista Vinicius Dória, que reflete bem o que vivenciamos nessas eleições. Veja só:

 

A eleição mais violenta e polarizada da história do país chega ao fim e expõe em números frios a divisão profunda de um país que não sabe ainda o caminho da reconciliação. Levará algum tempo para que vencedores e derrotados metabolizem o resultado das urnas em favor de um futuro mais fraterno. A estreita margem de votos que assegurou a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um terceiro mandato é o retrato dessa cisão. Pouco mais de dois milhões de votos o separaram de Jair Bolsonaro (PL), o primeiro incumbente a perder uma disputa pela reeleição ao cargo de presidente da República. Mesmo assim, o chefe do Executivo sai da contenda com o apoio de 58,2 milhões de pessoas, 49,1% do eleitorado. Mas a vitória do petista, ontem, já estava prevista com razoável grau de confiabilidade desde o fim do primeiro turno.

O resultado do primeiro turno apontou para as duas campanhas quais eram os desafios que cada uma teria de enfrentar. Faltaram a Lula cerca de 1,8 milhão de votos para vencer na rodada inicial. Bolsonaro chegou em segundo lugar com uma diferença de pouco mais de seis milhões de votos para o adversário. Estava dada, em números, a meta de cada um. O presidente, para se reeleger, precisaria ganhar quatro de cada cinco votos ainda disponíveis na prateleira do eleitorado para virar o placar. Para Lula, a tarefa era bem mais fácil.

No segundo turno, o ex-presidente jogou para não errar. E conseguiu incorporar à sua candidatura uma constelação de nomes da centro-esquerda à centro-direita — incluindo adversários do primeiro turno, como Simone Tebet (MDB) e o PDT de Ciro Gomes —, além de lideranças da sociedade civil, influenciadores digitais, artistas e intelectuais, que deu densidade ao conceito de frente ampla pela democracia.

Fotos de André Borges / AFP e Caio Guatelli / AFP

Bolsonaro também se movimentou no lado direito do espectro político e angariou apoios de políticos eleitos na onda do bolsonarismo (ou do antipetismo), como os governadores reeleitos de Minas Gerais, Romeu Zema, e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, detentores de uma máquina azeitada e influente em dois dos três maiores colégios eleitorais do país.

Foi na campanha do segundo turno que Lula apareceu em sua melhor forma: retomou os comícios de rua e as caminhadas com militantes para catalisar o que o PT tem de mais poderoso, que é a mobilização popular. A estratégia rendeu as melhores imagens para a propaganda eleitoral e alimentou as redes sociais, até então dominadas pela máquina bolsonarista comandada pelo filho 03 do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro. Para esse enfrentamento no ringue digital, Lula também contou com o reforço de dois influenciadores que ajudaram a mudar o jogo, o deputado André Janones (Avante-MG) e Felipe Neto.

Nomes influentes

Nos bastidores, o núcleo duro do PT deu lugar ao candidato a vice, Geraldo Alckmin, e a nomes influentes da política e da economia, que tinham a missão de mostrar que a candidatura de Lula era maior do que a frente de esquerda que disputou o primeiro turno. Uma das primeiras e mais comemoradas adesões foi da senadora Simone Tebet, que assumiu um protagonismo poucas vezes visto em campanhas petistas.

Um dado relevante dessa apuração foi o número de abstenções, que derrubou uma série histórica que parecia consolidada como tendência

Os votos que a senadora conseguiu transferir para o petista foram fundamentais para a vitória de ontem. Assim como a captura de parte do eleitorado de Ciro Gomes, que, mesmo ressentido, engoliu a orientação do partido dele, o PDT, de apoiar a chapa Lula-Alckmin.

Segundo levantamentos feitos pela equipe de campanha de Lula, os votos dos dois candidatos derrotados em 2 de outubro já seriam suficientes para ele atingir a marca de 1,8 milhão de votos que o separaram da vitória no primeiro turno. No cômputo geral, o ex-presidente amealhou 3,1 milhões de votos a mais do que obteve na primeira ronda, ou 1,1 milhão de votos a mais do que precisava para ultrapassar a marca de 50% dos votos válidos (59,2 milhões).

Um dado relevante dessa apuração foi o número de abstenções, que derrubou uma série histórica que parecia consolidada como tendência. Neste ano, caiu de 21% no primeiro turno para 20,6% no segundo.

Além da polarização, a oferta de transporte público gratuito na maioria das grandes e médias cidades brasileiras também contribuiu para estimular o eleitor a ir às urnas.

Bolsonaro chegou perto da vitória. Bem perto. Conseguiu reduzir a diferença para Lula de 6,1 milhões de votos no primeiro turno para apenas 2,1 milhões de votos no segundo. Mas a um preço nunca visto na história do país, com o uso intensivo da máquina do Estado para angariar apoios e votos.

Resultado da votação para Presidente no 2° turno no Brasil

Ainda na pré-campanha de primeiro turno, o governo aprovou um pacote de bondades com dinheiro público, sem lastro no Orçamento, voltado para a população mais pobre, como o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e benefícios como o vale-gás. Também usou o Congresso e a Petrobras para segurar artificialmente os preços dos combustíveis. O mercado estima que o rombo orçamentário fique entre R$ 200 bilhões e R$ 400 bilhões, uma conta que cairá no colo do próximo presidente.

A estratégia do Palácio do Planalto de abrir o cofre, comandada pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), quase deu resultado. Junto com os bons números da economia na área da geração de emprego e no controle da inflação (já são três meses de deflação seguidos), que impactam diretamente na vida das pessoas, Bolsonaro escalou nas pesquisas, mas não na velocidade e na intensidade desejadas.

No fechamento da conta, Bolsonaro agregou 7,1 milhões de votos no segundo turno em relação ao primeiro, apesar de toda uma onda de notícias negativas no período, como a frase infeliz dele sobre adolescentes venezuelanas (“pintou um clima”), declarações desastrosas do ministro da Economia, Paulo Guedes (“roubamos menos que eles”), e cenas assustadoras envolvendo aliados, como o ataque de Roberto Jefferson a agentes da Polícia Federal e a perseguição da deputada bolsonarista Carla Zambelli, armada, a um homem negro que a teria “provocado” em São Paulo. Nada disso colou em Bolsonaro.

… Bom dia! “Aprenda a ver o amor, a paz e a felicidade nas pequenas coisas do dia a dia e sinta a mudança acontecer dentro de você”.

… Abraço aos aniversariantes de hoje: Wellington Franco, Gislaine Penzo, Leandro Nunes, Carlos Falcão, Raquel Pereira Dias, Jodeir Ricardo, Maria Clara Tameiros, Camila Cristina Lima, Marilú Campos Seba, Roberto Oshiro, Marilu Seba, Neide Maria de Souza, Andrea Torres, Roberto Ferreira, Rosana Leão, Mara Nascimento, Omar de Castro, Maria dos Santos, Margareth Flores, Jaciara Almeida Palermo, Silvania Pereira, Carlos Renato Nunes e Léa Gomes. Happy birthday!

O advogado Roberto Oshiro comemorando hoje mais um aniversário. Happy birthday!

… O Diário Oficial da União (DOU) desta segunda-feira (31) traz a portaria PGFN/ME nº 9.444 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), que dá mais prazo para os donos de pequenos negócios negociarem suas dívidas ativas da União.

O novo prazo segue até 30 de dezembro de 2022, às 19h. Entre os acordos de transação com prazos estendidos, destacam-se o Programa de Regularização do Simples Nacional e a Transação de Pequeno Valor.

… A Honda Automóveis do Brasil está completando 30 anos de presença no mercado nacional. Destes, 25 anos com produção local. As últimas três décadas foram dedicadas a entregar produtos e serviços de excelência, que renderam à marca inúmeros prêmios e reconhecimentos do setor.