*Cris Linnares
Nós vivemos em uma sociedade patriarcal, ou seja, a organização social tem relações regidas por dois princípios: as mulheres são hierarquicamente subordinadas aos homens e os jovens estão subordinados hierarquicamente aos homens mais velhos, patriarcas da comunidade. Isso já explica muita coisa.
Mas não é porque crescemos assim que temos que continuar nessa cegueira. Claro que em muitos casos, nós temos mais atitudes reacionárias do que pensadas, mas a ciência explica que até o comportamento cerebral é diferente. Veja:
Publicado pelo site Scientific Reports (do grupo da revista Nature) há alguns anos, o neurocientista japonês da Universidade de Tokohu, Hikaru Takeuchi, desafiou 681 estudantes (306 mulheres), com idade média de 21 anos, a participar de um estudo que procurava perceber até que ponto a estrutura cerebral é diferente nas pessoas que discriminam uma às outras por conta do gênero.
Com a ajuda da ressonância magnética, o neurocientista descobriu que aqueles que manifestaram atitudes abertamente machistas tinham duas áreas cerebrais diferentes dos que acreditam na igualdade: mais densidade neuronal no córtex cingulado posterior e menor na amígdala direita. A primeira está muito relacionada com as relações interpessoais e com a raiva, o medo e a dor. Ainda segundo o mesmo estudo, quem tinha um comportamento mais igualitário partilhava uma morfologia na amígdala direita, associada a uma menor predisposição ao medo ou ao ver o outro como rival.
Como perceber que o filho é machista?
Quando criança, se atente à forma com que ele trata as amigas, pergunte o que ele acha das amizades, abra sempre para o diálogo, deixe que ele fale, assim se houver qualquer comportamento em que as diminua, você perceberá.
Preste atenção nas amizades, para que ele não seja influenciado. Em qualquer sinal de brincadeira ofensiva, repreenda.
Perceba os comportamentos dentro de casa, se ele não quiser ajudar em alguma tarefa por “ser de menina”, inicie um diálogo e explique que as tarefas precisam ser divididas entre os moradores da casa.
Na distribuição de tarefas domésticas, as meninas representam 84,1%, com a função de arrumar a cama, contra 11,6% deles. Entre as meninas, 76,8% lavam a louça e 65,6% limpam a casa. Outra tarefa predominantemente destinada às meninas é a de cuidar dos seus irmãos: 34,6% são responsáveis por essa função, contra 10% dos meninos. São dados da ONG Plan Brasil, que realizou uma pesquisa com meninas de 6 a 14 anos em todas as regiões do país.
Como evitar ter um filho machista?
Em meus grupos de terapia, percebo que é difícil para a mulher assumir que muitas vezes quem ensina o machismo e a opressão de um gênero, é ela mesma, sem perceber. Por exemplo: Quando uma mãe acabou de jantar e pede à filha que a ajude na cozinha enquanto o filho pode ficar vendo televisão com o pai, se há uma constância nessa dinâmica familiar, ela está definindo os papéis de quem serve quem, que pode ter como consequência o machismo.
Quando uma mãe aceita que o companheiro grite com ela, duas mensagens são passadas através de uma dinâmica relacional.
Para os filhos:“Está tudo bem gritar com as mulheres”;
Para as filhas: “Está tudo bem se calar diante do abuso”.
É uma tarefa difícil entender e tomar a responsabilidade de que somos modelo para os nossos filhos, o primeiro passo é não aceitar isso conosco, assim conseguimos ensinar e quebrar esse padrão na sociedade, pois sabemos que muito do que as crianças absorvem é o comportamento dos pais.
Analise se o círculo de amizades, incluindo os adultos, não está replicando estereótipos machistas que podem influenciar na definição de personalidade das crianças.
O machismo é uma forma de opressão que mantém a superioridade do homem em relação à mulher. Como combater isso? Com muito diálogo!
Desde cedo converse com os filhos, dê exemplos do que está acontecendo no mundo, mostre o quanto é errado a repressão que acontece com as mulheres. Deixe claro que é inaceitável qualquer desrespeito e brincadeira ofensiva.
O inspire valorizando desde cedo as mulheres de sua convivência, as enalteça, elogie, pratique a sororidade. Sabemos que as crianças absorvem muito de nossas atitudes, então que essa mudança de sociedade e criação de meninos não machistas, comece por nós.
Sobre Cris Linnares: psicóloga e terapeuta de mulheres há mais de 20 anos, palestrante internacional, mãe e autora da comédia feminina teatral e do best seller “Divas no Divã”.