*Por Pedro Signorelli
Ao contrário do que muitos pensam, a gestão financeira não é responsabilidade apenas da área de finanças de uma empresa. Em diferentes graus, todos precisam ter conhecimento, mesmo que básico, sobre gestão financeira, incluindo o analista e o estagiário. Porque no final do dia, nosso trabalho acaba em uma linha do balanço contábil ou entregando uma parte, ao menos, do ppt de estratégia.
Por essa razão, saber o impacto das nossas ações dentro da empresa em que estamos atuando no momento é extremamente fundamental para podermos trabalhar bem e da melhor maneira possível. Não importa se você faz parte da área de marketing, de clientes, jurídico ou auditoria. Seu trabalho vai impactar, direta ou indiretamente, a linha de receita e/ou de despesa da companhia.
A função da área de finanças pode variar de uma organização para a outra, não existindo um padrão definido ou pré-determinado. Pode ser que tenha mais atuação dentro das áreas de negócio ou menos, mas o fato é que vai fazer um acompanhamento dos números financeiros. E o líder, no mínimo, deveria ter domínio do impacto das ações do seu time no resultado da companhia.
Com isso, é óbvio que a conversa vai fluir muito melhor entre a área de negócios e a área de finanças se a turma do marketing, do jurídico, e outras, conseguirem falar sobre como aquele projeto entrega a estratégia, reduz os custos ou aumenta a receita. Caso contrário, será uma área – a de finanças – massacrando a outra área para tirar as informações mínimas necessárias para aprovar um projeto, verificar o andamento das ações etc.
A utilização dos OKRs – Objectives and Key Results (Objetivos e Resultados Chaves) – podem ajudar nesta discussão, porque uma parte deles está intimamente atrelado a números e alguns deles financeiros. É claro que não se aborda apenas finanças nos OKRs, mas frequentemente são uma parte importante. E a conversa passa a ser mais lógica e objetiva: alcançamos R$ 100.000 de receita ou não? As ações estão nos levando nessa direção? Nossas hipóteses foram validadas? Como sabemos que no próximo mês as coisas estarão melhores, ou que não se repetirá o mesmo resultado?
Ter a resposta para essas perguntas feitas de forma rotineira numa gestão baseada em OKRs – em mãos, garante que tenhamos mais controle sobre o desempenho de um time e sobre a situação da empresa. No entanto, a principal linha do balanço é a que temos menor ou baixíssimo controle: receita. Afinal, a receita depende do cliente querer comprar nosso produto ou serviço e, normalmente, as projeções financeiras levam em consideração premissas macroeconômicas que podem não se verificar, para baixo ou mesmo para cima.
Em alguns casos, as organizações estão mais expostas e sofrem mais com fatores externos, especialmente, no que se refere a tomada de crédito quando temos soluços no sistema financeiro, como a quebra de um banco o SVB ou “simplesmente” um problema contábil em uma grande empresa do setor do varejo, como vimos recentemente. A desconfiança se espalha e começa a se levantar temores se outras companhias, incluindo a sua, não estariam passando pela mesma situação.
É por isso que trabalhar alavancado e tomar muito crédito acabam expondo ainda mais a empresa aos ventos do mercado. Às vezes, há necessidade disso, mas em outros cenários poderíamos fazer uma melhor gestão da estratégia financeira. Essa atitude traz benefícios, além de evitar problemas e o consequente sofrimento com situações com as quais não temos nada a ver.
Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão, com ênfase em OKRs.