O Café vai ficar aguado

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*Por Emanuel Pessoa

Emanuel Pessoa, advogado Foto: Divulgação

Uma combinação entre os métodos utilizados no começo do século XX, o empobrecimento da população na Grande Depressão e o racionamento do café durante a Segunda Guerra Mundial levaram os americanos a desenvolverem uma preferência pelo café aguado. Na Europa, o desgosto da população local pela bebida fraca fez com que ela fosse denominada de “Americano”.

Nos últimos meses, o preço do café disparou, levando diversas pessoas a buscar alternativas como imitações ou produtos com alto grau de impurezas, preparados quentes de milho torrado, reaproveitamento do pó ou adicionar água. Em alguma medida, estamos vendo o surgimento do “Brasileiro” em função da subida vertiginosa do café.

O consumo de café tem disparado entre as populações mais jovens da Ásia, que estão substituindo o tradicional chá. Foto: Pixabay

Essa elevação do preço se deu por uma combinação de dois fatores. Em primeiro lugar, o consumo de café tem disparado entre as populações mais jovens da Ásia, que estão substituindo o tradicional chá. Apenas a rede chinesa Luckin declarou que comprará quase dois bilhões de dólares de café do Brasil nos próximos quatro anos. Com essa demanda aquecida, o preço da commodity subiu em dólar, o que já levaria a um custo mais alto para os brasileiros. Afinal, se o produtor não vender por um preço similar no mercado doméstico ao que ele encontra no exterior, ele prefere exportar o que for possível.

Em segundo lugar, a má condução da política fiscal pelo Governo Federal e uma série de declarações contra a gestão anterior do Banco Central levaram à uma aguda desvalorização do real. Com isto, são necessários mais reais para a mesma quantidade de dólares, puxando os preços para cima.

Assim, a média, o pingado e o cafezinho vão se tornando artigos de luxo. Foto: Anja por Pixabay

Assim, a média, o pingado e o cafezinho vão se tornando artigos de luxo. A quebra da safra também contribuiu, mas seria uma causa transitória. Os dois outros fatores devem se manter no horizonte, dessa forma forçando uma mudança no padrão alimentar do brasileiro.

Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.