Por que é difícil ser quem somos?

Foto: Dziana Hasanbekava

*Por Frederico Henrique M. Fernandes

Frederico Henrique M. Fernandes. Foto: Divulgação

Vivemos em uma era em que somos praticamente obrigados a vestir filtros sociais o tempo todo. Temos sempre que parecer bem, felizes e amáveis. Mas gastamos pouco tempo sendo, de fato, essas coisas. Sabe por quê?

Porque é como se estar feliz fosse um atentado à outra pessoa. Demonstrar amor, então, soa como sacrilégio. As pessoas estão sempre em uma posição de julgamento: “Tá, ela é feliz, mas fica fazendo concessões.” E daí? Quando nos relacionamos, é uma troca. Soma-se na vida de ambos, nem mais, nem menos.

As pessoas esperam que sejamos intolerantes e, se não cumprirmos esse papel, elas se incomodam, se frustram, se resignam. Quando assumimos o que queremos e bancamos essa decisão, parece que o mundo nos coloca na cadeira dos réus, prontos para a prisão perpétua. Se esse é o preço para se sentir bem por dentro e por fora, ótimo. A inquietação não está em nós está no outro, naquele que se incomoda mais com o que você escolhe do que com o que ele mesmo sente. É curioso como o desconforto do outro muitas vezes fala mais sobre ele do que sobre nós.

As pessoas esperam que sejamos intolerantes e, se não cumprirmos esse papel, elas se incomodam, se frustram, se resignam. Foto: Yan Krukau/Pexels

Está em tudo: nos vínculos que criamos, nas relações que mantemos e até nas escolhas mais simples, como o que consumimos. No dia a dia, somos empurrados para o excesso: de compras, de conteúdos, de estímulos. E, se não paramos para entender o que faz sentido, vamos absorvendo tudo sem pensar se combina com nosso momento ou com o que queremos para o futuro, e isso nos custa caro.

Por isso, pausas e silêncios não são solidão, são gestos de autoamor. Um tempo só nosso para perguntar: faz sentido ou não? Se não fizer, diga apenas: “Não, obrigado.” Esse espaço íntimo de escuta e reflexão é o que nos ancora em nós mesmos.

Fomos ensinados a achar que dizer “não” é desrespeito. Mas será? E se for respeito por nós mesmos? Então, por que dizemos tão pouco? É tão simples. Dizer “não” é abrir espaço para dizer “sim” ao que realmente importa. Viva mais pelas suas expectativas do que pelas dos outros.

Dizer “não” é abrir espaço para dizer “sim” ao que realmente importa. Viva mais pelas suas expectativas do que pelas dos outros. Foto: Pexels

Posso te dizer? É libertador. Escolher estar onde faz bem é impagável. Sabe aquela frase: “Se eu soubesse, tinha feito isso antes?”. Pois então, faça hoje. Não espere o caos para começar a priorizar a sua paz.

Com o tempo, a gente entende que ser fiel a si mesmo não é sobre nunca mudar é sobre mudar com verdade. É reconhecer o que já não faz sentido, abrir espaço para o novo e se escutar, mesmo quando o mundo espera outra coisa. Mesmo quando isso assusta, mesmo quando custa.

É difícil? Sim. Vai dar trabalho? Com certeza. Mas compensa.

Autor do livro “Um lugar chamado Eu”, Frederico Henrique M. Fernandes utiliza a literatura como espaço de autoconhecimento e expressão.