Como a carência afetiva impacta nas relações pessoais e na conexão com nós mesmos
Completamos um ano de pandemia e com certeza algo que tem feito muita falta no dia a dia é o afeto. O isolamento, que veio para nos proteger do vírus, também nos afastou daqueles que amamos e tudo isso impacta na nossa saúde mental. Segundo uma pesquisa da Decode e Kronberg, 22 a 28 de março, quando começou a pandemia, foi o período com maior procura na internet por “ansiedade” no Brasil.
Mas o que é o afeto? É a necessidade afetiva de ter, dar e receber amor, carinho e afeição.
“São sentimentos que precisamos sempre receber e dar ao próximo. E o afeto vem em forma de carinho, quando fazemos um cafuné, ou em palavras, quando dizemos eu te amo, você é importante para mim, eu gosto de você”, explica o psicólogo Leonardo Morelli.
Para o especialista, duas coisas afetaram nossa relação com o afeto. Uma é a dificuldade de nos relacionarmos verdadeiramente, porque as redes sociais nos impediram de viver o afeto como deve ser vivido. Ao mesmo tempo em que é possível pegar o celular e falar com alguém que mora longe de uma maneira muito mais fácil do que antes, o toque ficou distante, o sentimento por meio da fala ficou frio, nem sempre conseguimos expressar o que realmente sentimos por mensagens e ligações. E a falta desse contato trouxe uma carência afetiva muito grande.
O outro foi a pandemia. Há o medo de encostar nas pessoas, conversar ou fazer qualquer tipo de aproximação. Ela trouxe uma dificuldade muito grande de expressar afetividade, resultando em um prejuízo diário, principalmente para as crianças e os idosos, que são mais vulneráveis emocionalmente. As crianças precisam muito de afeto e ao não receber, pode atrapalhar toda a vida adulta.
Carência afetiva
É preciso ter em mente que já vivíamos uma carência afetiva muito grande, mas com a pandemia, aumentou muito mais. No último ano, as buscas por “o que é saúde mental” aumentaram 70%, ainda segundo a pesquisa acima. Todo mundo precisa se sentir amado e desejado, para fortalecer sua identidade, personalidade, seu eu, sua autoestima. Sem esse reconhecimento do outro, a baixa auto-estima é quem ganha forças, e resulta em um prejuízo no dia a dia, dificultando uma convivência normal na sociedade. Muitas vezes, criamos um medo de nos relacionar com as pessoas para não nos sentirmos rejeitados.
Com o mundo virtual, os sintomas se exacerbaram. Dependendo de quantos likes ou seguidores eu tenho, isso me traz uma frustração e não me sinto aceito, minha carência aumenta e minha auto-estima diminui. Um desses sintomas é a submissão extrema: preciso que o outro me ame pra me sentir feliz.
E nas redes sociais, muitas vezes as pessoas vivem em função do sonho dos outros. O que veem são fotos de praia, romance, casamentos, jantares lindos… E quando ela não vive aquilo, é como se não tivesse esse amor que tanto deseja e, consequentemente, não tenha plano ou perspectiva para sua própria vida, o mundo é que tem que trazer para ela.
Esse comportamento é muito perigoso, de “eu só sou eu, quando tem alguém que está comigo, ou que me ama, que me elogia”. Pois assim, ela não reconhece a si mesma, não dá conta de sua companhia, fica frágil e se sente inferior. Muitas vezes criando situações para chamar a atenção, mesmo que seja de forma negativa.
Mas, como se livrar disso tudo? Para Leonardo Morelli, é preciso parar de condicionar a felicidade em relação às outras pessoas. “Você é que dá felicidade à você. Busque melhorar enquanto pessoa, reconheça suas qualidades e seus valores, saiba que todos temos nossos defeitos e isso é normal. É preciso aprender a lidar com as limitações. Não dar conta de tudo não significa que você é menos do que as outras pessoas”.
Para manter vivo esse ciclo de afeição e um bom relacionamento com todos à sua volta, saiba que existem várias possibilidades de expressar amor. “Mesmo nesses momentos de pandemia, mais isolados, há uma oportunidade ao estar sozinho, de dar amor a si próprio, sem esperar de alguém, sem esperar que venha das redes sociais, mas de dentro de você mesmo. É a hora de começar a nos valorizar, nos perceber como somos, o que temos de bom e ruim e melhorar como pessoa. Se não fizermos isso, nunca vamos encontrar a felicidade”, finaliza Leonardo.
Leonardo Morelli – psicólogo, especialista em psicoterapia Breve e Hipnoterapia Ericksoniana, formado pela FUMEC, mestre em psicologia pelo Centro Ericksoniano do México e com especialização em Psicoterapia Ericksoniana pela The Milton Erickison Foudation (Phoenix – USA).