Novo spot tem direito a croquetas, crudos ebons petiscos. Coquetelaria vigorosa acompanha. Nem Galícia, nem Catalunha. Tampouco Andaluzia. Embora os espanhóis continuem trazendo felicidade à mesa em pequenas bocadas de muitas delícias, as tapas conquistaram o direito de assumir os mais variados sotaques, as mais variadas interpretações. Daí a chegada do Me Vā, tapería simpática do Baixo Pinheiros.
Capitaneado por Marcelo Muniz, já à frente do Nonna Rosa, osteria contemporânea nos Jardins, o novo restaurante envereda por um menu vivo: “Na Espanha o conceito de tapas se refere basicamente a pequenos e saborosos petiscos que acompanham uma bebida. Mas em muitos outros lugares, as tapas evoluíram para uma experiência gastronômica livre e divertida. É essa a nossa aposta”.
A bem dizer, é essa a missão do menu, servido do almoço ao jantar sem interrupções. Tesouro entre os snacks, as cremosíssimas croquetas (de camarão com geleia de pimenta de cheiro ou de chistorra, embutido basco à base de carne de porco fresca, com black mayo e mostarda caseira) vêm em porta-joias.
Já o bocadillo (vulgo sanduíche) de vieira, alface romana, maioneses de nori num pãozinho especial, chega ao salão em uma cúpula de defumação. Ao passo que o de angus com maionese de shoyu, saquê e cebolinha literalmente brilha até aterrissar à mesa, visto que é bem acomodado numa versão dourada das tradicionais caixinhas de fast-food.
Mais do que apresentações atraentes, a combinação de sabores e texturas consagra o tom festivo das entradas: o tiradito de peixe branco não traz leche de tigre, mas um creme tostado de couve-flor, piñoli, cebola-roxa e brotos e o tempurá de pato assado à lenha com geleia de tomate tostado
Nota-se por aí que a vocação do cardápio do Me Vāé permitir que o comensal flane sem ordem pelas receitas, reparta cada uma delas, repita sozinho o que se gosta. Seja um pequeno prato ou uma opção mais substancial.
Quer dizer, a essência se estende por toda a carta, como nos pratos principais, como na generosidade de uma porção do Arroz de marinheira (com polvo e camarões grelhados e aioli de açafrão), do Bife de chorizo, ajorriero, cebolinha grelhada e salsa de páprica ou o Fideuá de mexilhões e ervas frescas.
Mesmo as doçuras do Me Vā pedem colheres múltiplas, como comprova a espuma de creme catalão com frutas assadas e corn flakes. Em contrapartida, mais leves e crocantes do que os churros, as flores de carnaval recheadas com doce de leite assado com gel de limão siciliano adoçam com delicadeza e podem ser atacadas diretamente com as mãos.
No rooftop ou nas mesinhas da calçada do luminoso e acolhedor sobrado, a vontade é de gabaritar o menu todinho, de compartilhá-lo com quem se gosta, ao longo de horas, sem regras. Para isso, o serviço amistoso é palavra-chave, assim como a cuidadosa seleção de drinques.
“Além de clássicos bem executados e de gim tônicas alegres, aromatizadas com as cores da semana, há uma ênfase no uso de Jerez, o complexo vinho fortificado espanhol”, conta Marcelinho, que aprendeu a realizar todas as fórmulas disponíveis.
Na prática, o Jerez dá vida a uma versão de negroni, a um sour perfumado com tomilho e a um highball agengibrado. Na sua forma seca (oloroso ou amontillado), também aparece no refrescante me vā spritz (com toque de frutas vermelhas e bitters aromáticos) e no tropicalizado me vā cobbler (com suco de frutas, bitter, sálvia e rum añejo).
Para os mais ansiosos, calma! Sangria e água de valència (água de valência) não foram deixadas de lado, nem uma enxuta e democrática oferta de vinhos. Juntas ou separadas, elas conduzem igualmente bem a vivência Me Vā.
Se cabe uma última palavrinha sobre ela, é fato que, menos tradicional do que a propiciada por restaurantes espanhóis, não inclui tortillas, pintxos, paella ou churros. A experiência Me Vā envereda antes pela aventura de entreter todotipo de paladar, em qualquer ocasião.
Sobre Marcelo Muniz
Marcelo Muniz tinha 13 anos quando começou a trabalhar na lanchonete do cunhado. Os expedientes, que duraram 3 anos, não raro invadiam a madrugada e dificultavam a locomoção do Valo Velho a Embu das Artes, onde ele vivia. Nada que diminuísse o sonho de gerenciar salões de grandes restaurantes. Aos 16 mirou um emprego no restaurante mais conhecido do Embu, o Garimpo do Interior, onde trabalhou por seis anos. Saiu de lá para assumir uma escalada meteórica no Grupo Fasano, onde trabalhou dos 22 aos 30 anos, e foi de de cumin do Gero, passando a garçom, então a maître do Fasano Punta del Este e da Trattoria Fasano, sempre respaldado pelo olhar de Rogerio Fasano.
Quatro anos atrás, abraçou uma proposta mais arrojada de gastronomia e assumiu a maitria do Nino, restaurante que originou o grupo do chef Rodolfo de Santis. Foi ali que passados outros quatro anos, apaixonou-se pelo embrião do Nonna Rosa. Então, além de cuidar de sua abertura, tornou-se sócio do projeto que foi seu primeiro e segue agora com Me Vā.
Endereço: Rua Ferreira de Araújo, 285 – Pinheiros. Tel.: (11) 3816-0588 – @restaurantemeva