Sertões 2020: Olivier Anquier: camaradagem sobre rodas

O chef e apresentador de TV está a uma etapa de completar seu primeiro Sertões, e divide suas impressões sobre o evento deste ano, um alento para os competidores que ficaram tanto tempo isolados em função da pandemia.

Camaradagem. Para Olivier Anquier, se existe uma palavra que define a edição 2020 do Sertões é a possibilidade de congregar tantos apaixonados pela aventura de cruzar o Brasil em alta velocidade, principalmente em um ano tão difícil quanto o presente. Sentado à mesa do almoço dentro do box da equipe Bianchini Racing, o chef e apresentador franco-brasileiro dividiu com a equipe do maior rally das Américas suas impressões sobre sua estreia na competição.

Como tem sido essa primeira experiência no Sertões? Eu já havia feito competições na terra, sendo algumas provas de Baja. Agora, prova de longas distâncias, um rally como o Dakar ou o Sertões, eu nunca tinha feito. As motos estão na minha vida desde a adolescência, eu já fazia enduro de forma “privada”, digamos, sem competir. A novidade é o lance da competição. Mas é uma competição muito particular, na qual a aventura tem uma participação muito relevante. É um grande desafio.

Essa é a grande diferença desta para outras provas? Quando você está no privado, andando, não vou dizer passeando, pois diminui a experiência, você não tem esse compromisso. A competição tem um compromisso, que não é o de ganhar necessariamente, mas é o de terminar a prova. Então toda essa realidade, esse formato de bolha, no qual você tem uma união gigante, uma parceria. Todas essas pessoas que estão aqui, em torno desse mesmo objetivo, cria um ambiente que é único. Isso para mim é o diferente. Nas minhas viagens, geralmente, eu estou sozinho, ou no máximo com dois ou três. Não é essa camaradagem, ainda mais no contexto da realidade que estamos vivendo.

Isso lhe fazia falta? A interação social praticamente desapareceu com o confinamento. A socialização está toda aqui dentro. Fora da bolha infelizmente não tem. A carência estava muito grande e isso faz dessa edição dos Sertões diferente de todas as outras e especial ao mesmo tempo. Essa tem uma magia particular e eu estou adorando. Mas a organização está de parabéns, tudo muito bem montado. Não é fácil organizar uma logística como essa. Fiquei impressionado com a estrutura de chuveiros. No Brasil, organização é uma coisa meio rara. Mas no rally é assim, é um imprevisto a cada minuto. Por isso disciplina é fundamental. O segredo é saber tomar atitudes frente ao inesperado.

E o seu desempenho, como você avalia? A primeira especial deu até frio na barriga, afinal estavam todos os competidores lá, os campeões dos outros anos. Ou seja, estava ali num ambiente de renome, entre diversos profissionais do esporte. Outra coisa inédita para mim era a leitura das planilhas de navegação. Pensei comigo mesmo: “Como é que funciona esse GPS de papel?” É muito louco! Claro que eu treinei um pouco antes, mas o treino não se compara a sensação de parar na linha de largada, olhar para aquele negócio e dizer: “agora é pra valer”.

E deu certo? Super. Você pega rápido a manha. Você tem um monte de informação, mas esse ano as planilhas seguem uma cartela de cores. Mudanças de direção são registradas em azul. Então é praticamente só seguir o azul. O resto é visual. Minha vida inteira eu pilotei sem conhecer o terreno e nunca me matei. Por quê? Sempre segue o visual. E os perigos você administra. Com certeza não estou no Sertões com a faca entre os dentes para ser o campeão. Já passei da idade, afinal tenho 61 anos hoje. Vim para fazer aquilo que fiz a vida inteira. Flechinha azul indica se o caminho é para esquerda ou direita. E depois de sete dias, chegar ao destino.

Olivier Anquier completou a 28ª edição do Sertões, na 44ª posição na Geral entre 61 motos e 8º na Marathon Over. “Isto aqui é um sonho, um desejo que carrego comigo desde a adolescência e daqui uns dias farei 60 anos e, é motivo de muita emoção, me deixa muito arrepiado e me deixa muito feliz, mais uma realização que conquistei. Esse rali do Sertões foi uma superação, estou muito feliz de ter tido essa oportunidade e de chegar em Barreirinhas. É um grande momento!”, declarou o competidor da moto (#74) na rampa de chegada em Barreirinhas (MA), na tarde deste sábado, 07 de novembro.

Maurício Fernandes (#49)contou como foi a sua oitava participação no Sertões e ter Olivier como companheiro de equipe na Power Husky Bianchini Rally Team. “É emocionante completar, fico feliz de ter voltado, fiquei impressionado com a grandiosidade que tornou o evento. A última vez que participei foi em 2005, era grande, mesmo em situação de pandemia, enxuto, ainda assim bem organizado e está grande, imagino se tivéssemos público”, disse o piloto campeão na categoria Marathon Over 45 e 11º na Geral entre as motos.

“O Olivier tem ritmo de andar de moto, não é rápido, mas sabe administrar para terminar, minha preocupação foi com os UTV ultrapassando, mas ele encarou de boa e conseguiu tocar no ritmo dele e completar todos os dias. E com certeza ele deve competir outras vezes, como eu também estarei de volta!”, destacou Fernandes.

O SERTÕES

Um ano diferente pede um Sertões diferente. O maior rally das Américas se transforma no “Rally da Solidariedade”. A 28ª edição da prova trouxe adaptações relevantes nas suas três dimensões: Esporte, Social e Turismo. A missão este ano foi de levar acesso à medicina de qualidade e fomento econômico para as comunidades remotas e carentes do Brasil. Este ano a ação social do Sertões esteve focada em dois pilares: 1. Saúde: a instalação de unidades de teleatendimento médico gratuito de qualidade, projeto inovador desenvolvido pelo SAS Brasil; 2. Legado econômico: Ação coordenada com o SEBRAE em apoio à campanha ‘COMPRE DO PEQUENO’. Aquisição de cestas básicas de pequenos produtores locais que foram distribuídas nas regiões aos que estão sem trabalho e renda, além de todo abastecimento das Bolhas Sertões. O lado competitivo da prova foi adaptado com um protocolo de segurança especial com 10 medidas. A caravana ficou isolada em bolhas durante o percurso, em acampamentos fechados. Já a dimensão Turismo, que revela lugares que pouca gente conhece, foi postergada para 2021.