Tratamentos ajudam atletas a enfrentar dores nas Olimpíadas

*Por Dr. Marcelo Valadares

Foto: Divulgação

À medida que as Olimpíadas de 2024 em Paris avançam, atletas de todo o mundo encaram dores crônicas, lesões e desgaste físico para conquistar medalhas para os seus países. Tratamentos de recuperação cada vez mais sofisticados têm sido aliados para preservar a competitividade esportiva.

O neurocirurgião funcional Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp, alerta sobre o desafio de chegar ao limite entre a performance e o sacrifício. “Quanto mais um atleta treina, maior o risco de lesões. Para ser um medalhista olímpico, inevitavelmente será preciso ir além da dor. Entretanto, felizmente, hoje existem tratamentos avançados e inovadores para ajudar na superação deste desafio. O apoio de uma equipe multidisciplinar também é essencial para o atleta de alta performance”, afirma.

“A dor é mecanismo de defesa do corpo. Quando ocorre uma estimulação prejudicial, receptores sensoriais especializados são ativados e enviam sinais elétricos através das fibras nervosas para a medula espinhal e, em seguida, para o cérebro. No cérebro, essas mensagens são processadas quanto à intensidade, localização e tipo de dor”, explica o neurocirurgião. Essa percepção resulta em respostas fisiológicas e comportamentais, como a retirada da área afetada do estímulo doloroso e a ativação de processos de cura e inflamação – que são otimizados com tratamentos regeneradores.

Grandes nomes do esporte passaram ou ainda convivem com condições que disparam o processo de percepção da dor nessa edição dos Jogos Olímpicos. Veja quais são:

Simone Biles, ginástica artística

Em seu retorno olímpico, a representante dos Estados Unidos na modalidade tem sido aberta sobre suas lutas contra dores e lesões. Ela, que já enfrentou lesões no tornozelo e nas costas, engatinhou durante a classificação para o salto em Paris devido a dores na panturrilha, mas, levou a medalha de ouro na competição em equipe com seu solo.

Simone Biles com o título do US Championships — Foto: Jerome Miron-USA TODAY Sports
Simone Biles com o título do US Championships. Foto: Jerome Miron-USA TODAY Sports

Novak Djokovic, tênis

O tenista sérvio Novak Djokovic, vencedor de 24 títulos de Grand Slam, está em busca do primeiro título olímpico da carreira, apesar de ter realizado uma cirurgia para reparar o menisco há menos de dois meses. As dores no joelho o tiraram da disputa de Roland Garros em junho, mas, recuperado, ele derrotou seu principal rival, Rafael Nadal, na terceira rodada da chave de simples do torneio olímpico.

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Novak Djokovic com medalha de ouro das Olimpíadas de Paris 2024. (Foto: Patricia DE MELO MOREIRA / AFP)

Ana Marcela Cunha, maratona aquática

A atual campeã olímpica da modalidade, a atleta sofreu um rompimento do tendão subescapular e uma lesão no supra espinhal que limitavam seus movimentos. Operada em 2023, ela é um dos nomes mais promissores para trazer a medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris.

Ana Marcela Cunha com o ouro olímpico em 2021 — Foto: Reuters
Ana Marcela Cunha com o ouro olímpico em 2021. Foto: Reuters

A medicina da superação

A gestão da dor em atletas de alto nível é uma ferramenta essencial para que eles se mantenham competitivos. O tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar, que inclui terapias físicas, administração de medicamentos permitidos e psicoterapia, entre alternativas, individualizado para a necessidade de cada atleta de modo a não prejudicar seu desempenho.

Ha, ainda, técnicas avançadas de recuperação e tecnologias inovadoras para o mundo dos esportes, centradas no cérebro. A neuromodulação da dor, por exemplo, já é uma realidade presente em muitos países. “A neuroestimulação é uma realidade para casos avançados de dor crônica, quando a terapia multidisciplinar e a medicação já não são mais suficientes. É feita por meio de uma cirurgia minimamente invasiva, a partir do implante de um pequeno aparelho – semelhante a um marcapasso que envia estímulos elétricos ao sistema nervoso central, bloqueando ou modificando os sinais, a fim de controlar a dor em regiões específicas do corpo”, explica o Dr. Marcelo Valadares.

Por não utilizar substâncias proibidas que podem prejudicar a saúde dos atletas e levar a penalidades severas, a neuromodulação adiciona uma vantagem ética à melhoria do desempenho atlético.