240*Por Marco Moraes
Na recente cerimônia de sua posse como presidente da Petrobras, a Engenheira Magda Chambriard declarou: “Não existe transição energética sem falar quem vai pagar essa conta. E é o petróleo que vai pagar essa conta”. Seria uma declaração auspiciosa, se significasse que a Petrobras, que é a maior produtora e fornecedora de petróleo e derivados do Brasil, fosse liderar a transição energética do país.
A Petrobras ainda afirma que, para garantir a “segurança energética”, precisa iniciar a exploração em novas áreas, como na Bacia da Foz do Amazonas. O termo “Foz do Amazonas” provoca arrepios nos ambientalistas de todo o mundo, pois remete à ideia de que a exploração se dará próximo à Floresta Amazônica, o que não é o caso. Os blocos exploratórios da Petrobras se encontram em águas profundas a 530 km da foz do Rio Amazonas e a 175 km do litoral norte do Amapá. E notem, só há ali um potencial geológico para a existência de petróleo. Até que sejam perfurados poços, não há nenhuma garantia de que haja reservas significativas.
Explorar petróleo perfurando alguns poços a centenas de quilômetros da costa representa um risco ambiental pequeno. Mas, uma vez descoberto, o petróleo tem que ser armazenado e transportado por navios ou dutos, operações onde o risco é bem maior.
Embora toda essa atividade vá ocorrer, em sua maior parte, longe da floresta, há um outro risco ambiental muito preocupante. Ao longo da chamada costa amazônica, que se estende por 679 km do Maranhão ao Amapá, há uma faixa de manguezais que ocupa 9 mil km2 e corresponde a 70% dos manguezais do país. É o maior cinturão contínuo de manguezais do mundo. E os mangues são um bioma essencial não só para as áreas costeiras, mas também para boa parte da vida marinha.
A declaração de Magda Chambriard de que “o petróleo vai pagar pela transição energética” não é corroborada pelos fatos. Seu antecessor na presidência da empresa, Jean Paul Prates, até incluiu 11 bilhões de dólares de investimentos em energias renováveis nos 100 bilhões que a Petrobras pretende investir até 2028. 11%, portanto. O que é muito pouco.
A iniciativa privada investiu 25 bilhões de dólares em energias renováveis no Brasil apenas em 2023! E no caso da Petrobras, boa parte dos 11 bilhões de dólares serão aplicados na aquisição de usinas de biocombustíveis, ou seja, não serão novas frentes, apenas negócios já consolidados que mudarão de dono. Não é o que se espera de uma empresa que afirma que vai liderar a transição energética do país.
A questão que permeia toda essa discussão é: que país queremos ser? Vamos continuar planejando um desenvolvimento econômico com os olhos para o passado? O mundo está com os olhos voltados para o Brasil. E vai ficar mais ainda quando a COP 30, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, for realizada em Belém, em plena Amazônia, no ano que vem. Explorar de forma açodada a Bacia da Foz do Amazonas, mesmo que não represente todo o risco que pode parecer, me parece que enviaria a mensagem errada para o mundo.
Marco Moraes é geólogo, pesquisador de mudanças climáticas e autor do livro “Planeta Hostil” (Matrix Editora).