
No mês do Novembro Azul, campanha dedicada à conscientização e prevenção do câncer de próstata, médicos reforçam a importância de combater a obesidade, fator que, segundo estudos, pode associar-se a tumores próstaticos mais agressivo e dificultar o tratamento.
Embora o excesso de peso não aumente diretamente as chances de desenvolver o câncer de próstata, pesquisas mostram que ele está associado a formas mais avançadas e fatais da doença.
“A obesidade cria um ambiente metabólico e inflamatório que favorece o surgimento de tumores mais resistentes ao tratamento”, explica o Dr. Ramon Marcelino, endocrinologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP). “Por isso, manter o peso saudável é também uma medida concreta de prevenção oncológica.”
O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil, atrás apenas do de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados mais de 70 mil novos casos por ano no país.

Como o excesso de peso agrava a doença e dificulta o diagnóstico
A ciência já identificou como o excesso de peso pode agravar o quadro: cada aumento de 5 kg/m² no índice de massa corporal (IMC) eleva em até 9% o risco de câncer de próstata avançado. O motivo está em uma combinação de alterações hormonais, inflamação crônica e acúmulo de gordura ao redor da próstata, fatores que estimulam a multiplicação das células tumorais.
“A resistência à insulina e o estado de inflamação subclínica no organismo, comuns em pessoas com obesidade, contribuem para a progressão do câncer”, detalha o Dr. Ramon. “É um processo silencioso, mas que interfere diretamente na evolução da doença.”
Além de influenciar o comportamento do tumor, a obesidade também pode dificultar o diagnóstico precoce. Isso porque homens com excesso de peso tendem a apresentar concentrações mais baixas de PSA (antígeno prostático específico), principal exame de rastreamento da doença.

O volume sanguíneo maior dilui a concentração do marcador, o que pode gerar resultados falsamente baixos. Além disso, pacientes com obesidade costumam ter próstatas de maior volume, o que dificulta o exame físico e a detecção de nódulos.
“Essas limitações fazem com que muitos pacientes sejam diagnosticados tardiamente, quando a doença já está em estágio avançado”, explica o endocrinologista.
O excesso de peso também influencia os resultados do tratamento. Em cirurgias como a prostatectomia radical (procedimento para retirada total da próstata), pacientes com obesidade costumam ter maior tempo de operação, mais perda de sangue e recuperação mais lenta.
Além disso, há maior risco de complicações, como incontinência urinária e disfunção erétil no pós-operatório. “A obesidade não é apenas uma questão estética. Ela influencia diretamente o sucesso do tratamento e o prognóstico oncológico”, reforça o Dr. Ramon Marcelino.
Controle de peso melhora a qualidade de vida e o tratamento
As diretrizes internacionais, como as da National Comprehensive Cancer Network (NCCN), recomendam perda de peso intencional para homens com sobrepeso ou obesidade diagnosticados com câncer de próstata.
Mudanças no estilo de vida, incluindo alimentação equilibrada, prática regular de exercícios e acompanhamento médico, trazem benefícios comprovados. Além de melhorar a qualidade de vida, essas medidas ajudam a reduzir inflamações e a melhorar a tolerância aos tratamentos.

“Mesmo que ainda não existam provas de que a perda de peso reduza diretamente a mortalidade, os benefícios metabólicos e funcionais são inegáveis”, afirma o endocrinologista. “O Novembro Azul vai além do exame. É um convite para adotar hábitos saudáveis e prevenir as formas mais graves da doença.”



