O amor de Paul Potts pela ópera vem da música clássica, quando ainda criança ele começou a ouvir Brahms, Tchaikovsky, Dvorak, e então esbarrou em uma gravação de Jose Carreras cantando “Che Gelida Manina”, de La Bohème. “Eu fui enfeitiçado por tanta paixão e pela música”, diz o cantor, que tem a história de sua vida antes do sucesso retratada na adorável produção Apenas uma Chance, estreia do dia 24 de julho nos cinemas. Confira o trailer abaixo.
Potts cantou nos corais da escola, da igreja, em produções amadoras nas quais interpretou os protagonistas de algumas das óperas mais clássicas. Desobedeceu o médico e cantou a Aída logo após a descoberta de um sério tumor adrenal, e interpretou Manon Lescaut logo após a cirurgia, pouco antes de sofrer um acidente de bicicleta que lesionou seu pescoço e poderia tê-lo condenado a nunca mais cantar.
Foi todo esse percalço e as dificuldades financeiras que se seguiram que inspiraram Paul Potts a tentar a sorte no “Britain’s Got Talent”, apesar de não ter cantado durante muito tempo. Literalmente, Potts ficou sabendo do teste para o show enquanto navegava pela internet durante um intervalo em seu trabalho burocrático como gerente da loja de celulares Carphone Warehouse.
“Eu estava dando umas buscas pela web quando uma janela pop-up se abriu na tela do meu computador. Quis fechá-la, mas acidentalmente acabei maximizando-a e calhou de ser o anúncio dos testes para o ‘Britain’s Got Talent’”, lembra Potts. “Preenchi o formulário e então vi meu reflexo na tela do laptop e pensei: ‘Ninguém vai escolher você. Você é gordo, está velho demais e canta o tipo errado de música’. Mas eu decidi tirar a sorte em uma moeda de dez centavos. Se desse cara, eu daria enter no campo ‘enviar’. Se desse coroa, pressionaria ‘cancelar’”.
Deu cara, e subir ao palco foi algo aterrorizante, mas Potts tinha feito uma sábia escolha da canção que interpretaria: “Nessun Dorma” é, indiscutivelmente, a ária mais reconhecida no mundo todo, extraída da ópera Turandot, de Puccini. A reação de delírio que a plateia e os três juízes tiveram, radiantes em surpresa, devem contar como um dos melhores momentos na vida de Potts, certo?
Não é bem assim: “Eu estava satisfeito com aquela reação, mas ainda estava olhando para a porta-armadilha, porque Simon Cowell, um dos juízes, ainda tinha que fazer suas considerações e eu esperava que ele dissesse algo do tipo: ‘Você foi bem, mas acabou errando a nota que todo mundo queria…’”.
Não foi o que aconteceu e Paul Potts ganhou a vaga para a primeira edição de um dos shows de talento mais populares do mundo, venceu o show e tornou-se o primeiro lugar nas paradas de sucessos de nove países em todo mundo. Mas poucos conhecem o hercúleo esforço do cantor lírico para chegar a esse ponto — as tentativas, as atribulações e as monumentais derrotas que ele sofreu ao longo de sua vida. E por mais que o sucesso de Paul Potts seja magnífico, é a história que levou o agora famoso cantor à audição do “Britain’s Got Talent” que os produtores de Apenas uma Chance querem contar: a história do filho de um operário da indústria siderúrgica de South Wales que se apaixonou por ópera ainda menino. Apesar do bullying, do ceticismo e de dificuldades físicas, nunca desistiu de tentar realizar seu sonho.
Nas poucas situações em que a trama de Apenas uma Chance se desvia da vida real, é em nome da narrativa cinematográfica, um fato que Paul Potts aceitou de bom grado. “A coisa mais importante é a mensagem e eu acho que a mensagem está preservada: um sujeito que está precisando de dinheiro por conta de um acidente e de doença, desiste de tudo. E então tira a sorte na moeda e faz uma coisa que muda sua vida para sempre”, resume o cantor.
Potts ainda complementa: “Eu fico muito feliz que o filme tenha sido conduzido como uma comédia porque 90 minutos de uma história chorosa não é algo que as pessoas queiram ver no cinema. Elas vêm ao cinema para fugir da realidade”.