Estamos no início do fim da globalização?

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*Por Alessandro Batista

Alessandro Batista

A nova presidência americana está chacoalhando o mundo. O presidente Donald Trump está implementando políticas econômicas e fiscais protecionistas que buscam valorizar a produtividade dentro do território americano. O fundamento é plausível, a globalização econômica não gerou compartilhamento de riquezas, tampouco equilíbrio econômico-financeiro entre as nações. Embora tenham avançado alianças no mundo todo constituindo, o conceito globalista não impediu a manutenção, renovação e criação de acordos bilaterais que na prática acabam por contrariar a ideia de comum acordo comercial global.

Os EUA apontam decréscimo de sua economia em decorrência das políticas globalistas de interconexão econômica. O caldo cultural também é relevante, inclusive, nas questões econômicas e de consumo. Alguns outros países pegaram carona com os EUA e, revendo as suas próprias conexões econômicas, iniciaram ações fiscais protetivas.

Os EUA apontam decréscimo de sua economia em decorrência das políticas globalistas de interconexão econômica. Foto: Steve Buissinne por Pixabay

A administração de Trump adotou uma política protecionista, com destaque para a guerra comercial com a China e o aumento de tarifas sobre produtos como aço, alumínio e bens tecnológicos. Os impactos nos EUA foram o crescimento do setor manufatureiro doméstico: algumas indústrias, como a siderúrgica, se beneficiaram no curto prazo.

Houve inflação em alguns produtos, de modo que tarifas sobre importações da China aumentaram os custos para consumidores e empresas. Outro efeito consiste em retaliações comerciais com os países afetados (China, UE, México, Canadá) respondendo com tarifas sobre produtos americanos. E ocorreu um deslocamento de cadeias produtivas no momento em que empresas buscaram fornecedores em países não afetados pelas tarifas, a exemplo do Vietnã e da Índia que cresceram como fornecedores de tecnologia.

O desvio de comércio fez com que países não envolvidos nas tarifas aproveitassem novas oportunidades de exportação. Foto: Markus Winkler por Pixabay

Já no comércio global, temos como efeitos a desaceleração da economia do planeta com uma guerra comercial entre EUA e China que afetou cadeias produtivas e reduziu o crescimento do PIB mundial. O desvio de comércio fez com que países não envolvidos nas tarifas aproveitassem novas oportunidades de exportação. E há uma insegurança no mercado financeiro: as políticas protecionistas aumentaram a volatilidade em bolsas e moedas.

A implementação dos ideais globalistas não gerou adequação e equilíbrio nas relações comerciais mundiais, e isso é fato. O Brasil, por exemplo, possui disputas comerciais há décadas que se mantém sem solução. O Agro Brasileiro é constantemente vitimado por ações protecionistas da União Europeia. Provavelmente as relações comerciais mundiais passarão por revisões, que podem ser profundas ou rasas. O Brasil tem histórico de respostas extemporâneas, letárgicas e por isso é provável que não assistamos nenhuma mudança efetiva de postura do Brasil em curto e médio prazo.

No entanto, o impacto destas novas políticas fiscais certamente chegará ao Brasil e exigirá planejamento fiscal e financeiro. Buscar a elisão dos efeitos das novas políticas de taxação é uma missão para as empresas Brasileiras, inclusive aquelas que não estão diretamente ligadas ao mercado internacional.

Alessandro Batista é advogado especialista em Direito Tributário e sócio do ABN Advogados