O mês de novembro marca a campanha de conscientização sobre a saúde do homem, especialmente a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata — segundo tipo mais comum entre homens no Brasil, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o país registra cerca de 71.730 novos casos por ano no triênio 2023–2025, com estimativa de 17 mil mortes anuais em decorrência da doença. Os números reforçam a urgência de uma abordagem mais ampla e integrada sobre o tema.
Apesar da relevância, o tabu em torno do exame preventivo ainda é um dos maiores obstáculos à detecção precoce. Um levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia mostra que 46% dos homens com mais de 40 anos só procuram o médico quando apresentam sintomas, o que reduz as chances de cura. Segundo o INCA, o rastreamento populacional (exames de rotina em pessoas assintomáticas) não é indicado, devendo a decisão ser feita de forma compartilhada entre médico e paciente, com base no histórico familiar e na avaliação individual.

Para a psicóloga Dra. Andrea Beltran, o Novembro Azul é também um convite ao autoconhecimento e à quebra de paradigmas ligados à masculinidade tradicional. “O Novembro Azul é mais do que uma campanha de conscientização sobre o câncer de próstata: é também um convite para que o homem olhe para dentro de si. O tabu em torno do exame preventivo e o medo do diagnóstico revelam não apenas o receio da doença, mas também o desconforto com a própria vulnerabilidade e com a ideia de finitude, temas que a masculinidade tradicional frequentemente evita”, afirma.
Ela explica que o diagnóstico precoce pode representar um ato de coragem e amadurecimento. “Encarar o medo de um exame ou de uma possível cirurgia é enfrentar a sombra, essa parte da psique que abriga nossos temores, vergonhas e fragilidades. Quando o homem aceita olhar para ela, passa a cuidar de si, integrando corpo e alma em um movimento autêntico de individuação”, diz.

A psicóloga também destaca que o temor de perder a potência sexual após uma cirurgia na próstata toca em um dos arquétipos mais profundos da masculinidade: o do guerreiro e o do amante. “A ideia de fragilidade física pode ser vivida como uma ameaça à identidade e à virilidade. No entanto, é justamente nesse ponto que a psicologia junguiana propõe um novo olhar: a verdadeira potência não está apenas na função sexual, mas na capacidade de se reinventar, de amar, de acolher as próprias limitações e de transformar a dor em sabedoria”, observa.
Para Andrea Beltran, a terapia é uma aliada essencial nesse processo. “Muitos homens ainda carregam preconceitos em relação ao cuidado emocional, como se buscar ajuda fosse sinal de fraqueza. Mas, na verdade, é um gesto de maturidade e força. Falar sobre medos, inseguranças e corpo é um ato profundamente humano. Que este Novembro Azul inspire cada homem a cuidar de sua saúde integral, física e emocional, e, se necessário, dar o passo mais corajoso de todos: procurar um psicólogo e iniciar o caminho do autoconhecimento.”
Mais do que uma campanha voltada ao exame preventivo, o Novembro Azul propõe uma reflexão sobre o autocuidado em sua totalidade. Para especialistas, a saúde masculina deve ser compreendida de forma integrada, considerando hábitos de vida, alimentação equilibrada, prática de atividades físicas e, sobretudo, atenção à saúde mental. O movimento, iniciado na Austrália em 2003 e ampliado globalmente, se fortalece a cada ano no Brasil como símbolo de conscientização e mudança de comportamento.




