O custo da falta de política industrial

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*Por Paulo D. Villares

Paulo Villares

A cada novo levantamento sobre o desempenho da indústria brasileira, repete-se o mesmo diagnóstico: estagnação, queda no emprego e falta de direção. Os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam uma produção praticamente parada e a retração no número de trabalhadores.

Esses índices são apenas mais um sintoma de um problema estrutural que se arrasta há décadas: a ausência de uma política industrial consistente, estável e de longo prazo.

O Brasil vive há anos preso a um ciclo vicioso de improviso. A cada governo, novos programas são lançados com grande entusiasmo e pouca continuidade. Falta planejamento integrado entre Estado, empresas e universidades; sobram medidas pontuais, incentivos desarticulados e uma crença ingênua de que o mercado resolverá sozinho os gargalos de competitividade.

O Brasil vive há anos preso a um ciclo vicioso de improviso. Foto: Pierre Pierre por Pixabay

Enquanto isso, outros países constroem estratégias de Estado, apostam em inovação e formam gerações de engenheiros, técnicos e pesquisadores capazes de sustentar políticas industriais robustas.

Além disso, parte relevante da indústria nacional, com as devidas exceções, não investiu o suficiente para se tornar realmente competitiva. Muitas empresas ainda não entendem que competitividade está diretamente ligada à capacidade de exportar. Exportar é o termômetro.

Para isso, é indispensável apostar em inovação e, por um período determinado e bem planejado, contar com incentivos governamentais que fortaleçam setores estratégicos.

Após atingida a competitividade, esses incentivos devem ser reduzidos ou eliminados, exatamente como fizeram países que hoje são referência industrial.

Um país competitivo se constrói com visão de longo prazo, estabilidade regulatória e compromisso coletivo com a produtividade. Foto: Pixabay

Uma política industrial eficiente precisa combinar diretrizes setoriais com fatores horizontais, como redução do chamado Custo Brasil e maior estabilidade cambial. No entanto, o ponto-chave é que as empresas compreendam seu papel nessa agenda: é necessário trabalhar em cooperação com o Estado e a academia, com metas claras de produtividade, internacionalização e desenvolvimento tecnológico.

Proteções podem existir, desde que temporárias e vinculadas ao ganho real de eficiência, jamais como muletas permanentes.

Não há atalhos. Um país competitivo se constrói com visão de longo prazo, estabilidade regulatória e compromisso coletivo com a produtividade. Precisamos de uma política industrial que vá além de subsídios e protecionismos, que incentive a inovação e premie quem investe em eficiência.

O Brasil tem talento, criatividade e recursos, mas o que falta é coordenação estratégica e coragem para pensar grande.

Perseguir utopias é, em certo sentido, o que move o progresso. Mas é preciso transformar a utopia de uma nação industrial forte em projeto concreto. Enquanto tratarmos a indústria como tema secundário, continuaremos estagnados, acumulando estoques em vez de conquistas.

Paulo D. Villares é empresário e engenheiro, referência na indústria nacional e autor de “Perseguindo Utopias”